27 de novembro de 2013

UTAM: 30km sempre sozinha mas muito bem acompanhada

A VÉSPERA: Surpresa!!!!!

Neste trail só estávamos inscritos quatro Baby Runners: eu, a Ritta, o Paul Michel e o Peter Days.

Partimos rumo a Barcelos no sábado e nesse mesmo dia iríamos jantar com amigos que conhecemos no Trail Camp. O ponto de encontro com esses amigos foi no local de levantamento dos dorsais e depois fomos tomar um chá antes de jantar.

O trail tem destas coisas: conhecemos pessoas e facilmente nos tornamos amigas. Além disso, e repito tal como já disse em relatos anteriores, até hoje só conheci gente boa neste mundo das corridas. Pessoas simpáticas, que por vezes me ajudam, que me dão ânimo, que me dão conselhos, que me apoiam, que me dizem verdades... E depois estão sempre disponíveis para quando precisamos de algo. Algumas pessoas do Trail Camp assim que souberam que iríamos a Barcelos disseram: liguem quando chegarem, vamos jantar convosco.

Todos os que jantaram connosco em Barcelos, e alguns até os conheci nesse dia (sim, porque amigo trás amigo e se és amigo do meu amigo, meu amigo és) são pessoas duma disponibilidade e amizade tremenda. Para vocês tenho esta expressão (que adoro!!) e que é bem típica do norte:

Vocês são casquinha d'ovo!!! Gente finíssima!!

Já sentada à mesa e a picar uns pastéis de bacalhau toca o meu telemóvel. Era a Babe.

Babe: Olá! Então? Já estão a jantar?

Eu: Sim. Já cá estamos todos.

Babe: Hum... E o ambiente? Está porreiro?

Eu: Sim, está tudo animado. Estamos agora a começar a jantar com os amigos de Braga. Estou aqui a desgraçar-me com pastéis de bacalhau!! Eheheheh... Mas não faz mal que amanhã derreto isto tudo!

Babe: Deixa lá, precisas desse reforço. E olha, não precisas de mais nenhum reforço na meta??

Eu: Hum... (Não estava a perceber). Sim, talvez. Um reforço sabe sempre bem.

Babe: Pois... Está bem... Mas não gostavas mesmo de ter mais um reforço na meta??

Eu: (O raio da miúda... Não percebo nada do que está a dizer...)

...

Neste momento entra a Babe e o Louis no restaurante! Fiquei bamba! Estes dois sacaninhas, nas minhas costas, inscreveram-se na corrida (até abreviaram o nome da equipa para eu não os topar) e aparecem ali, assim, caídos do nada para nos fazerem uma ultra-surpresa!

Como podem imaginar a tormenta de emoções começou logo na véspera. Estive mais de dez minutos a recordar o telefonema de sexta-feira onde ela me fez todas as perguntas e mais algumas: onde é o restaurante? E a que horas jantam? E vão quando? E dormem onde?...

Conclusão: as mulheres são excelentes a enganar. Mesmo as próprias amigas! Façam atenção de futuro!



Baby Runner mentirosa e aldrabona! Sua bisca...

 
 E o cúmplice da Babe, o Louis que vai com um ar trés desolé!!
 
 

O DIA DO TRAIL

Foi ao som de Carmina Burana que saímos da meta. Aquele som tão galvanizante que nos faz acreditar que somos heróis e heroínas, que vamos conseguir, que nascemos para correr na montanha.

Na meta e com frio.

  Aqui já éramos amigas outra vez!

 
 'Bora aí malhar 30km??? Ouvi dizer que há lá em cima Bolas de Berlim aos montes!

Os meus quilómetros iniciais foram feitos tão, mas tão devagar que ao fim de 2km olhámos para trás e mandámos passar um rapaz pois achámos que estava a tentar ultrapassar-nos. Esse rapaz era tão somente o 'rapaz-vassoura'. Ah bom! Pois claro! Já sou a última é isso? Não me importei, sabia que teria de fazer esta prova com muita calma pois não queria magoar-me. Aliás, mais do que calma esta prova foi feita com medo. O que desde já admito que não foi uma sensação boa e que provavelmente não quero voltar a repetir. Disse à Ritta para seguir porque o meu ritmo era muito lento para ela. E neste dia ela estava possuída, acreditem... Deu-lhe a todo o gás!

Andei por aqueles montes cerca de cinco horas e durante essas cinco horas pairava sobre mim o medo. O medo de cair novamente e sobre o mesmo tornozelo. Sim, porque nestas coisas a lei de Murphy é tramada. Desta vez, a estratégia foi completamente invertida: nas descidas caminhei e nas rectas e nas subidas de pouca inclinação corria com calma. Tentei assim gerir o esforço durante toda a prova.

 Devagar...

 Ainda mais devagar...


 E agora parada! (Foto dedicada à Esposa-afilhada!)

As descidas foram um autêntico pesadelo. Nem sequer corria devagarinho, colocava pé sobre pé sempre a rezar aos santinhos para não escorregar ou cair. Consegui fazer os 30km sem um único susto. Obrigada meu Santo Antoninho!

De manhã quando organizei a mochila coloquei lá dentro Voltaren Rapid para caso começasse a ter dores... Pimbas! Prometi a mim mesma que ao menor sinal de dor parava imediatamente. Curioso é que as dores (nem sequer posso dizer dores, era mais uma ligeira impressão) começaram ao km23. Desculpa??? Epá, se era para começar a doer que começasse ao km10. Ao km23 é que nunca!! Quem desiste a sete quilómetros da meta?? Depois de ter feito vinte e três?

Nem pensar, tomei um Voltaren, concentrei-me no caminho e fui a correr até à meta. Neste trail nunca tive dúvidas que o caminho se fazia quase sempre para cima. Apesar de ser um percurso onde temos a oportunidade de correr bastante, em especial na fase final, as subidas são tramadas, em especial duas delas. Que paredes, meu Deus! Numa delas parecia uma gata, fiz metade da subida a quatro patas. Mãos à frente e pés atrás! E trepei por ali acima.

Chegava ao cimo os voluntários diziam sempre: "vá, está quase"! Uma palavra especial aos voluntários que ao longo do percurso nos davam incentivo e até diziam umas graçolas! Foram pessoas importantes que estavam ali não só a vigiar ou a controlar as passagens mas algumas até com vontade de dar dois dedos de conversa.

Fiz este trail praticamente sozinha. Andei vários quilómetros completamente sozinha na montanha. Às vezes até parava para ver se via ou ouvia alguém à frente ou atrás. Mas nada... Nem sequer os bichos ouvia. Só via fotógrafos, os únicos seres vivos com que me cruzei durante a prova.


Quer um sorriso? Tome lá que é de borla!

Atravessei rios com água pelo joelho. Num deles não resisti, mesmo com o frio que estava, em meter as mãos na água e lavar o rosto. Já sentia o sal do suor nas têmporas. Sabem do que me lembrei? Da minha infância no Alentejo. Lembro-me das férias com a minha avó. Ia com ela para o rio. Ora chapinhava, ora tomava banho.

Assim que olhei para a água e vi as minhas mãos submersas, já quase roxas de frio, voltei a ter seis anos. E esta foi outra das grandes emoções deste trail, recordar um passado feliz.

Desde que corro por montes e vales muitas são as ocasiões que regresso à minha infância. Apesar de hoje ser menina de cidade, passei grande parte das minhas férias de infância "na terra" com a minha avó. Guardo daí memórias muito felizes.

Como caminhei por várias vezes, ao pisar o chão e ao olhar para os meus ténis "vi" por diversas vezes um pezinho de criança, descalço e rechonchudo a pisar folhas secas de eucalipto. Em pequena tinha a mania de andar descalça. A minha mãe nunca deixava, porque podia adoecer, mas a minha avó deixava sempre. Até quando ia para a horta. Descalçava-me e percorria os leitos da rega a chapinhar e a sujar os vestidos de folhos e lacinhos. Depois chegava a casa e a minha avó obrigava-me a pôr os pés de molho numa bacia de água quente para limpar as unhas que estavam negras de tanta terra que traziam... Agora as minhas unhas também estão negras mas é por culpa dos trails! (Quem corre sabe do que falo).

Até o cheiro a estrume que senti na zona dos hortas me levou ao meu Alentejo. Curioso que em pequena odiava este cheiro, mas neste dia parei para inspirá-lo e recordar-me, mais uma vez, das vezes em que fui dar milho às galinhas das vizinhas da minha avó. Aquele cheiro era igual ao das capoeiras...

Continuando...Pára de sonhar e mexe-te que ainda falta muito caminho.

Curiosamente, neste trail não falei com muitas pessoas. Mesmo com aquelas com que me cruzava lá trocava uma palavra ou duas, mas definitivamente este não era um dia para muitas conversas (o que para mim é algo muito difícil, devo admitir). Só estou calada se estou mal disposta ou se estou com receio de algo. Neste dia era o receio de fazer uma nova "amiga" ali mesmo: tipo, uma pedra ou uma árvore.

Por outro lado, foi o trail onde vi mais grupos de pessoas a fazerem a prova juntas. Várias pessoas em grupo, animadas, que corriam ou andavam por aqueles trilhos. Eu fui quase sempre sozinha. Só a recordar-me do meu Alentejo.

Nem música levei. O som dos rios que se fazia ouvir por diversas vezes, o bater muito calmo dos meus pés foram a minha banda sonora. Nem sequer estava vento para ouvir as folhagens. Nada! Tudo limpo, o céu e o ar.


 


Já vos falei das subidas? Ah, as subidas, aquela coisa inclinada que a malta do trail adora?? Sim, essas. Pois recordo-me de duas muito difíceis e recordo-me muito bem da subida da corda. Já vos disse alguma vez que sou muito fraquinha de braços? A célebre subida das cordas era feita em pedras, ou melhor pedragulhos, e tínhamos à nossa disposição uma corda. Quando cheguei lá não sabia se me agarrava à corda ou não. Aconselharam-me a fazê-lo. Como moça bem mandada assim fiz.

Só vos digo: já não sei quem se ria mais, se eu se o fotógrafo que teve tempo para me tirar umas trinta fotos... Exagero, tirou meia dúzia, vá.

Aqui fica o momento hilariante, captado pela lente do fotógrafo a quem agradeço não só as fotos mas as risadas ao ver-me subir aquela "parede". Não gozar com a falta de jeito, ok?








Se souberem de algum workshop sobre "Como trepar rochas em menos de dez minutos" apitem, ok?

Depois de muito subir e muito descer a parte final da prova dá para esticar as pernas, ou seja, correr. O pior é que quando se vem já com 24km nas pernas não sei se correr é propriamente aquilo que mais me apetece fazer. Mas a verdade é que consegui correr. Muito devagar, mas corri.

À entrada de Barcelos uma senhora muito simpática diz-me: então menina, vem cansada?? Ande lá, corra que é já ali!! A simplicidade com que nos dizem isto... Cheguei à meta ao fim de cinco horas e sete minutos de luta entre mim e o medo de torcer o tornozelo. 

A organização da prova esteve irrepreensível: abastecimentos muito bons em qualidade e quantidade, autênticos manjares, gente muito atenciosa e cordata.

 
 Paparoca da boa!

Foi a prova mais bem sinalizada que fiz. Até porque fi-la sozinha e se não me perdi, acreditem, é porque estava muito bem sinalizada! Se algum dia houver pódio para 'Atleta-Desorientada' aviso já que sou forte candidata ao 1º lugar, mas discutido ao sprint final com a Ritta Bramble, claro!!

O percurso é muito variado, é o tipo de percurso que agrada a gregos e a troianos. Dá para correr várias vezes, dá para suar nas subidas e dá para voar nas descidas!

Foi a prova com maior cobertura fotográfica onde já participei e onde os fotógrafos também ajudaram com palavras de incentivo ou apenas um: "vá, um sorriso! Está quase..." A todos eles, pela qualidade do seu trabalho, um grande bem haja!


A SEGUIR...

Faltava esperar pelo Paul Michel e pelo Peter Days. Para não variar o Peter Days telefona à Ritta a dizer-lhe que estava no km53 e que o Paul Michel estaria mais à frente. Largámos a correr (outra vez!!) do hotel para a meta para estarmos presentes no momento da chegada.




Vai devagar! Senão... Tu vas tomber!!

E ele chega. Paul Michel chega em êxtase!

A grande diferença que noto nele entre agora e há uns meses atrás é a expressão com que chega à meta. Antes o cansaço e a exaustão tomavam conta do semblante, agora chega (até já faz gracinha para a foto) e parece que diz: 'tá feito! Siga!


 Esta expressão diz tudo! Um misto de raiva e contentamento.


Peter Days chega a seguir também com uma expressão no rosto que traduzia o esforço daquela prova, mas ao mesmo tempo a compensação de chegar ao fim e superar mais um grande desafio.

 

 
 Pimba!! 61km já cá cantam!


Assim se correu em Barcelos! E Barcelos teve o privilégio de nos ter por lá a dar um ar da nossa graça. Aplaudimos os bravos e bravas que chegavam à meta. Alguns nem sequer reagiam ao apoio (o que é compreensível) mas outros via-se que ficavam contentes de nos ver gritar por eles!

Pela primeira vez cheguei à meta com as pernas a tremer. Não sei o que isso quer dizer. Não sei se era do cansaço, da emoção ou do frio... Talvez um pouco de tudo à mistura.

Mas em boa verdade só as pernas é que tremiam... Os pensamentos e as recordações de infância, esses, foram firmes durante toda a prova.

Obrigada aos Amigos da Montanha por me permitirem voltar a ser criança durante cinco horas!

Para o ano estou lá e vou ao pódio! Assim que abrirem o escalão "Veterana-Pé-Empenado-Sonhadora" estou lá e o caneco é meu!

Até breve, num trilho por aí...

26 de novembro de 2013

(UTAM) Ultra Trail Amigos da Montanha - Love is in the air


Venho aqui entregar o peito às balas! Vá, atirem! Aproveitem que é este o momento. É agora que me podem chamar nomes, atirar pedras e vaiar! Depois daqui em diante calam-se para sempre e só me dizem coisas boas, ok?

Cá vai então: fui a Barcelos, ao Trail Amigos da Montanha e... Parti às 8h50m da linha da meta rumo aos 30km. Fui, fiz os 30km em 5h05m e cheguei à meta sem (grandes) dores! Só assim com um formigueiro...

A minha mochila levava tanto Isotónico quanto Voltaren Rapid!

O relato desta Ultra-Prova seguirá em breve, mas para já quero apenas adiantar-vos que tudo e todos tiveram um final feliz (excepto o meu amigo Paulo Tavares a quem mando daqui um abraço com votos de rápidas melhoras). Foi um fim-de-semana recheado de surpresas e momentos de ir às lágrimas (literalmente!!). O dia da prova teve várias cenas tipo filme de Hollywood!

Do nosso lado foram batidos quatro records de distância: eu e a Ritta, nos 30km, o Paul Michel e o Peter Days, nos 61km! Trouxemos na bagagem uma mão cheia de records pessoais! Toda a minha gentinha estava com bom ar e todos terminaram a prova com sorrisos de fazer campanhas publicitárias a dentífricos.

Mas houve mais surpresas! Depois conto!

Outro grande acontecimento marcante desta prova (e faço aqui referência porque as redes sociais já estão a bombar com esta notícia!) foi um pedido de casamento na meta! Eu não vos disse que foram só finais felizes ao estilo de Hollywood? Nem imaginam a carga emocional deste dia!...

Ele, percorre 61km com um anel de noivado na mochila e dores no joelho. Perto do km20 o Paul Michel avista-o e pergunta-lhe como está. Ele responde que está bem e muito focalizado em terminar a prova e pedi-la em casamento. Estivemos cerca de duas horas na meta à espera dele, com máquinas fotográficas em punho (como lhe havia prometido há três semanas atrás). Ele chega à meta já com lágrimas nos olhos, emocionado por ter terminado aquela dura prova. Passa a meta, ela avista-o e abraça-o. Ele afasta-a por momentos. Tira a mochila, ajoelha-se e pede-a em casamento. Ali.

Eu vi tudo. Toda a gente viu. Toda a gente aplaudiu! Toda a gente fotografou! Confesso que me emocionei-me naquele momento (mas eu sou uma mijona e perante cenas destas não consigo conter as lágrimas). Ele faz 61km, sobe montes, desce ravinas, atravessa rios, corre... E ela espera-o na meta, espera apenas o abraço da vitória. Mas nunca esperava um anel de noivado.

Vejam...




Acho que a sigla UTAM, no futuro, também poderá significar:

ULTRA TRAIL DO AMOR NA MONTANHA!

Peter Days e Ritta Bramble trés énamouré

Paul Michel et moi même aussi énamouré

Vá, agora deixem-me ir escrever o relato desta prova. Já volto aqui. Até já!

20 de novembro de 2013

Corrida do Monge: estava tudo a correr tão bem...

... Quando, ao km8, catrapumba! Esbardalhanço, com voo incluído, em pleno monte.

Corrida do Monge, estão a ver? Ali no km8? Segunda árvore do lado direito a seguir ao tronco que estava atravessado no caminho? Estão a ver? Até tinha no chão umas folhas secas de eucalipto?

Pois, mas não foi aí. Foi um bocadinho mais à frente...

Caí, rebolei e fiquei com a cara no chão. Virei-me ao contrário e sem me levantar vejo duas caras por cima de mim a perguntar se estava bem. Estendi-lhes a mão e puxaram-me. Claro que estava a doer-me o tornozelo, mas comecei lentamente a caminhar. Entretanto, surge a Ritta, para me ajudar mas eu digo-lhe para seguir e que estou bem. Lá segui e consegui correr. Como estava "quente" não senti dores enquanto corria, nem quando cortei a meta. Fiz ainda quatro quilómetros e creio que o mal foi esse. Só piorei a situação. Se tivesse encostado logo ali às boxes... É aquela cena de não desistir, de não parar. E como não estava com dores insuportáveis, lá segui.

Depois de cortar a meta e do habitual convívio fui tomar banho e almoçar ali na zona de Sintra. Sensivelmente a meio do almoço comecei a ter dores horríveis, como nunca tinha tido até hoje. Para me levantar da mesa do restaurante já só o consegui fazer ao pé-coxinho e levada em ombros. Saí dali rumo ao hospital. O raio-x não deu nada partido. Por isso a "sentença" foi a mais conhecida: repouso, gelo, anti-inflamatório.

Corridas e corridinhas... Por agora... Esquece!

E daqui salto já (salvo seja!!) para outro assunto que me está a consumir a alma: a minha próxima prova já no domingo, o Trail Amigos da Montanha. Iria fazer 30km já este domingo, mas... Acho que não dá. A minha médica de coração disse-me para não fazer, sob pena de arranjar aqui um problema grave. É que nem sequer é uma corrida de estrada, é outra vez!!! uma corrida no monte, caramba!

Psicologicamente vais formatada para ter cuidado e só isso vai fazer com que pises o terreno com cautela, logo o mais certo é ires tão cuidadosa que ao mínimo deslize... Lá vais tu outra vez! Por outro lado, era a minha grande prova esta temporada! 30km... Snif, snif... E se não tiver dores até lá? Podia ir.... Devagarinho, com cautela... Mas e se me entusiasmo?

Da Corrida do Monge trago esta má sorte, mas não foi por isso que não gostei de ir até à Malveira da Serra. A corrida tem um percurso notável, muito bonito. A prova em si esteve muito bem organizada, vê-se que se trata de uma organização "caseira" mais ainda assim muito funcional, e é isso que se quer, que as coisas funcionem bem e funcionaram muito bem: desde a entrega dos dorsais até à entrega do saco de participante, com o célebre pão com chouriço, tudo correu lindamente. Durante o percurso tínhamos vários pessoas a vigiar a prova e a dar indicações do caminho a seguir.

A tão falada subida é uma autêntica parede capaz de matar ali vários atletas que não se tenham resguardado no incío. Foi feita a passo e bem a passo. Nunca parei, segui sempre muito lentamente e a controlar a respiração.

No meu caso em concreto noto que fiz as subidas com mais facilidade que em provas anteriores e com subidas menos inclinadas. Acho que o recente plano de treinos tem funcionado muito bem. O reforço lombar e abdominal começam agora a dar os seus frutos.

Desta vez a equipa Run Baby Run contou com os habituais e com uma surpresa 'last minute': o meu grande amigo Ritchie Pitchie ;) que fez o favor de aparecer e correr trajado a rigor! Ah pois!

Aparece mais vezes, meu amigo!
(Mastiguei os 11km do Monge em 1h47m)

Os restantes fizeram a prova sem dificuldades e todos com um balanço positivo, com o Louis a estrear-se numa prova 'out of road' e, pelo que nos disse, gostou bastante. Disse-o com ar de quem queria dizer: "vou voltar a repetir".

 Ritta Bramble
    
 Eu, ainda, a sorrir. O aproximar de uma meta tem este efeito em mim!

Give me five!

 A equipa do costume com o amigo Nelson Graça que conhecemos no Trail Camp e que conquistou um fantástico 6º lugar na geral. Parabéns, Nelson!

Agora só volto aqui para vos contar como foi o Trail Amigos da Montanha. Será uma experiência nova ver uma prova do lado de fora. Vou contar como foi. Contar como foi ver a partida, ver os atletas, ver os abastecimentos, ver a chegada... Também deve ser bom...

É... Deve ser bonzinho, sim... Aliás, deve ser o máximo! Não sentem já a adrenalina?!?! Estou super-entuasiasmada!! Já estou a imaginar: ver os outros na linha de partida e eu ali, paradinha ao lado, a acenar com a mãozinha e a dizer 'Adeus'... Conseguem perceber a excitação?!

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12 de novembro de 2013

Marathon des Sables: o enxoval

Cá por casa vamos fazendo artimanhas para treinar. Nesta altura do ano, com os dias mais curtos, torna-se menos apetecível sair à rua ao fim do dia para fazer o treino. Mas tem de ser. A cada dia que passa, adensa-se a preparação da Marathon des Sables. Que não passa só por correr, claro.

Há muita coisa a preparar. A começar pelo enxoval que tem de ir com o noivo. Comida, saco-cama, mochila, roupa, utensílios... Um sem fim à vista de coisas e coisinhas que o Paul Michel tem de levar para o deserto.

Para planear tudo isto nada como uma folha de Excel para ajudar no levantamento e registo do que está disponível no mercado, para mais tarde tomar decisões sobre o que levar. É o mais por menos: mais energético ou mais calórico, por menos peso! A regra do peso é de ouro.

Como muitos saberão esta prova é feita em auto-suficiência (quase, porque a organização da prova disponibiliza água aos participantes, 12 litros/dia), mas de resto tudo tem de ser carregado aos ombros. Estima-se que a mochila de um participante ronde, em média os 12kg. No mínimo a organização impõe 8kg, a partir daqui cabe a cada um a selecção criteriosa do que vai levar. E lá dentro deverá estar tudo o que é necessário para aqueles seis dias no deserto: roupa, comida, saco-cama, bússola, medicamentos básicos, etc..

Uma das últimas visitas ao "supermercado" o levantamento efectuado resultou nisto:



Já te estou a imaginar de manhã, depois de teres corrido na véspera uns 40km, a fazeres o teu cappuccino e cantar Johnny Nash:
 
"I can see clearly now the rain is gone; I can see all obstacles in my way; Gone are the dark clouds that had me blind... It's gonna be a bright, bright, sunshiny day!!"

 

Painel solar: para carregar o telemóvel e mandar sms.

Uma naifa ao estilo de McGyver para matar escorpiões que apareçam à noite no saco-cama

Um isqueiro, não vá aparecer alguém no meio do deserto a pedir lume

210gr. de colchão? Nahhh, peso a mais. Aquilo não é areia? Então?Menino...


Olhem que bom aspecto!

Massinha com chicha!



Nhumi, nhumi! Com caril!

E fácil: aquecer a água, juntar ao preparado, mexer, esperar 5m et voilá!!! Um repasto!

Já eu, sempre solidária com ele, também andei a fazer uma pesquisa de coisas e coisinhas que me faziam muita falta para correr. 

Então comprei uma camisola, primeira camada, agora que o frio se aproxima ou eu me aproximo do frio. Tem um grande defeito: após o treino fico a cheirar a ETAR... Benza Deus!!



O colete Nike Aeroloft para vestir por cima da primeira camada, com pena de ganso e ultra-leve. Tem perfurações que permitem que o calor saia, evitando suar em bica. Há muito que procurava uma peça deste género para correr. Não gosto de me sentir enchouriçada, mas só uma primeira camada também não era suficiente. Este colete permite liberdade de movimentos e mantêm-me quente. Pelo menos enquanto o frio não aperta, falta testá-lo nos dias de frio intenso para ver se o calor se mantém. Mas para já, está aprovado e recomenda-se.




Por fim, as luvas, esse acessório para os dias de frio mais rigorosos. Nunca fui muito adepta de luvas, nem para o dia-a-dia. Mas em provas de trail, por exemplo, são aliadas importantes em caso de queda ou simplesmente para nos apoiarmos numa parede ou pedra. E tem outra grande vantagem: ajudam a não lascar o verniz das unhas!




Cada um com as suas necessidades, lá vamos indo... Permitam-me brincar um pouco com isto, pois por agora ainda vou tendo espírito para me divertir com a situação. Com o passar dos meses acho que esta veia humorística vai-se desvanecer para dar lugar a uma alma inquieta...

Boas corridas!