22 de agosto de 2014

As Anas da minha vida de corredora

Recebi, por estes dias no facebook, esta imagem com dedicatória.




Ela diz que é nossa fã. A Ana gosta de nós. E expressou isso desta forma. Montou uma imagem com as pessoas que ela admira e que vão ao UTMB (o Armando Teixeira vai fazer a Tor des Geants).

Eu "conheci" a Ana virtualmente aquando da participação do Paul Michel na Marathon des Sables.

Quase que posso arriscar que a Ana deve ter sofrido o mesmo que eu. Ficava acordada à espera que o Paul Michel e todos os portugueses chegassem ao final das etapas. Durante o dia inundava o meu facebook com "já chegou? Alguém me diz se o Paul Michel passou no CP3? Quantos kms são amanhã? Começa a que horas?" E isto sucessivamente durante seis dias.

A Ana não nos conhecia de lado nenhum. A Ana é assim com qualquer português que corre onde quer que seja. Ela está lá. Aos gritos, a olhar para o monitor do computador. Aquando da MDS várias pessoas se juntaram à Ana a apoiar o Paul Michel. Este apoio ultrapassou tudo aquilo que nós poderíamos imaginar. Nunca esperei que as pessoas se mobilizassem tanto em volta de uma participação amadora. Jamais esquecerei as mensagens, que foram tantas, e a presença de algumas pessoas.

Sobretudo, desde aí, que tenho mais Anas na minha vida, algumas até usam calças e andam sempre por aqui a espreitar e a deixar o seu apoio. Para todas queria mandar um grande abraço. Um abraço daqueles que o João Lima tão bem define. (João Lima, desculpa o "abuso". Isto é quase uma opa ao teu blogue, mas quando alguém escreve aquilo que nós sentimos da mesmíssima forma não há que inventar a roda).

Houve momentos muito difíceis nesta preparação para Chamonix. Chorei, abdiquei de muita coisa, sofri, cheguei a desistir (apesar de nunca o ter dito a ninguém), voltei a abraçar o desafio... Mas não me arrependo de nada.

Em todo este período foram várias as Anas que me ajudaram. E a elas estou muito grata. Mas houve algumas que, ou porque o momento foi o certeiro ou porque têm o dom da palavra ou da escrita, me marcaram muito.

De todas as Anas tenho que destacar estas que levo comigo para Chamonix. Algumas nem são pessoas com quem prive ou fale diaria ou semanalmente. Mas são pessoas especiais, que entendem o meu discurso sem ter de escrever ou dizer muito. Ou que até conseguem ler, entre linhas, aquilo que nem sequer escrevi. Outras já me ralharam no momento certo. Outras ensinaram-me coisas importantes. Estas Anas juntando a tantas outras que deixam sempre aqui no blogue uma palavra de força e ânimo cortarão a meta comigo.

Não posso colocar aqui a foto de todas as Anas, por isso revejam-se, cada um de vocês, aqui nesta imagem.


As Anas



Só voltarei a escrever aqui depois de terminar a OCC. Até lá espero conseguir partilhar convosco alguns estados de alma e algumas fotos.


Até ao meu regresso! Feliz e com o meu caneco na mão: o troféu de finisher!


(Diz que o troféu é um colete, só espero que haja em rosa e seja cintadinho, que eu não gosto cá de trapos largueirões).     :)))

20 de agosto de 2014

Semana UTMB 2014

Não conseguirei assistir à chegada do Paul Michel. Ele vai fazer a TDS cuja partida está marcada para as 7h de dia 27, 4ª feira. Nem sei a que horas ele prevê chegar, mas será concerteza durante a noite, madrugada dentro.

Ora acontece que a minha prova, a OCC, é dia 28, 5ª feira, com partida em Orsiéres, a 50km de Chamonix. Na agenda prevê-se que a saída de Chamonix rumo à meta, em Orsiéres, seja por volta das 5h da manhã. Com tudo isto, o Paul Michel vai terminar a prova (Ámen!!) enquanto eu durmo.

Estarão por lá mais amigos que também vão fazer esta prova e lamento não conseguir estar na meta, de máquina fotográfica em punho, a captar imagens das suas caras larocas. Além disso, no que toca a esperar o Paul Michel nas metas já tenho a minha dose. Depois da MDS acho que tenho créditos até ao fim da vida.

Mas... (Há sempre um mas...) Façam atenção e tomem nota! A parte boa é que eu já poderei contar com TODOS (ouviram bem??) à minha espera. Livrem-se, meus queridos, de terminarem 119km e enfiarem-se na cama! (Vocês sabem quem são!!) Toca a ir a casa, tomar um banho rápido, descansar apenas um par de horas, trocar de roupa e correrem (ai, coitados!!) para a meta para me esperarem, ok?

Já os estou a imaginar na meta, com máquinas fotográficas a gritar RUN BABY RUN, e ramos de flores, e o Canal Plus, a TV5, EuroSport a tentar entrevistar-me, e depois vinha o Kilian dar-me um beiji...
...
...
... Menos...
...
... Muuuuuiiiito menos. Sonhar alto nunca fez mal a ninguém, creio...


O 'nosso' Programa das Festas


Com tanta atividade nem sei se vai dar tempo para correr.

Ai, c'a nervos...

19 de agosto de 2014

O que se diz sobre as provas UTMB


Em particular sobre a minha.

OCC [Orsières-Champex-Chamonix] - La hermanita suiza

La carrera partirá de Orsières situada en el suroeste del cantón en el Val d’Entremont. Este valle ofrece paisajes únicos: los últimos espolones y agujas del flanco oriental del Mont-Blanc dibujando la frontera franco-suiza, glaciares suspendidos sobre las rocas pulidas, torrentes tempestuosos… El trazado de la OCC pasa por el corazón de esta naturaleza, en un ambiente particular y típico antes de llegar a Champex y la última y mágica parte del recorrido del UTMB® o de la CCC®.
La salida será de Orsières el jueves 28 de agosto 2014 a las 8:00
- Máximo 1.200 corredores
- No son necesario puntos de calificación

Este evento es el resultado de un sueño desde hace mucho tiempo y de una pasión por el Ultra-Trail®, compartido por un numero cada vez mayor de corredores del mundo entero y de sus acompañantes. Su concretización solo es posible gracias a la amistad que une a los habitantes de los municipios franceses, italianos y suizos de la región del Mont-Blanc.

Sobre as outras provas ler aqui.








Vai daí...

IÓ LA RÉ I Ú
IÓ LA RÉ I Ú
IÓ LA RÉ I Ú
IÓ LA RÉ I Ú
IÓ LA RÉ I Ú



11 de agosto de 2014

Um parêntesis


Paul Michel anda a fazer a birra vai para mais de quinze dias, porque eu não ligo nenhuma à prova dele. Por isso, aqui fica este pequeno apontamento sobre a prova de cará-cá-cá que ele vai fazer: a TDS, 119km com 7250 D+.

O que eu gostava de ser mosca para estar ali no km50 a vê-lo chegar... :)))

E depois ir até Col de la Forclaz e perguntar se quer um Mojito? Ah, não precisas, já estás servido de isotónico, claro!

Ou então dizer aquela frase tão célebre: "vá, está quase... Já falta pouco!"


Gráfico da "famosa" TDS



Domingo, p'ra variar (!!!) foi dia de treino longo para mim e treino longuíssimo para ele. Serviu também para testar equipamento novo. Andava com um problema: onde colocar os bastões de forma prática e rápida. A minha mochila não é muito amigável para esse efeito, até se torna pequena para uma prova destas, mas vai ter de dar porque não vou gastar (mais!!) dinheiro noutra mochila. A solução foi comprar um cinto onde os bastões se prendem de forma muito fácil. Com o cinto ganhei mais espaço (bolsos) para guardar coisinhas mas acima de tudo resolvi o problema dos bastões que me andavam a tirar o sono.


 Esta subida é 50 vezes mais difícil do que parece aqui na foto

E esta descida?? Horrível... 

Começo a andar nervosa com as coisas todas que tenho de transportar comigo. O Mister tinha razão em aconselhar-me a perder, pelo menos, dois quilos. É que devo ter de os carregar em material: impermeável, 1 litro de água/isotónico, telemóvel, câmara de filmar, bastões, manta térmica, três pacotes de lenços (para fazer ‘aquilo’ e enxugar as lágrimas), apito, t-shirt de manga comprida, barras energéticas, géis energéticos, comprimidos de sal, comprimidos para as dores, comprimidos para a birra, comprimidos para ter ânimo e força para subir montanhas mesmo que já esteja a cair para o lado, comprimidos para ser resiliente, um batôn e uma escova para dar um jeitinho ao cabelo quando estiver a cortar a meta.


Enfim, necessidades básicas de uma aspirante a ultra trail runner…

6 de agosto de 2014

É por ali acima

Ao olhar para o gráfico da altimetria da minha prova - coisa que ultimamente faço sete vezes ao dia - reparo que está assinalado o nome dos picos montanhosos por onde passarei. Vou ao google e pesquiso: Catogne. Surge isto.

Portanto, por volta do km24 tenho de subir isto, é isso? Certeza? Depois de fazer 24 km? É subir para cima? Sempre?

Muito bem. Assim seja.


Catogne (ainda na Suiça)

(Ainda ontem me queixei das subidas de Monsanto).

4 de agosto de 2014

A desilusão, a neura, o "esquece", o "volta à carga" e as teias de aranha

As férias, que começaram com o Ultra Trail Douro e Paiva (UTDP), serviram não só para descansar a cabeça mas também para cansar as pernas. A juntar a isto a reflexão em torno do sucedido na prova levou a que uns dias de férias se transformassem numa maratona pensante sobre a minha vida e a corrida.

Acreditem ou não estive quase a desistir de ir a Chamonix. Até houve quem me perguntou assim (mas desta vez num tom ternurento): “achas que deves ir a Chamonix? Achas que estás preparada?” Com medo da resposta que podia ter dado naquele momento respondi um cobarde: “não sei…” Hoje, agora a escrever, ainda não sei se estou preparada. Nem sei se no próprio dia da prova saberei. E provavelmente não tenho de saber.

Oiço constantemente conselhos de amigos, alguns deles bastante experientes neste tipo de provas e até mais duras, que me dizem coisas do tipo:

“Mas qual é o drama se desistires? Não és primeira e não serás a última! Mas deves alguma coisa a alguém? Mas queres provar alguma coisa a alguém? Vives disto? Então goza o dia e a experiência única que vais ter… A semana UTMB é única e tem uma organização de excelência, nunca participaste até hoje numa prova com este nível de organização. As paisagens são de cortar o fôlego. O ambiente em Chamonix nessa semana só se respira trail, só se fala de trail, só se vive trail… Vens de lá apaixonada pela montanha, apaixonada (ainda mais) pelo trail.”

E de repente surge logo uma força enorme que me diz: “ó moça, tu vais fazer aquilo. Treinaste, vais estar bem e vais conseguir.”

O UTDP já lá vai e hoje já falo com mais distanciamento do que se passou. Estava na cara que dieta rigorosa e treino em demasia dariam aquele resultado. Um resultado que nunca achei que fosse tão mau. Já o disse e repito: para mim foi uma surpresa o preço que paguei. E é assim que uma prova que poderia ser de sonho se tornou no meu maior pesadelo.

Inscrevi-me nesta prova por dois motivos: 1) passei parte da minha infância nesta zona e e tenho de lá muitas e boas recordações e 2) no momento da inscrição, tive a certeza que a data da realização da prova era numa altura perfeita face a Chamonix: seis semanas antes era a altura ideal para fazer um último longo, como que uma espécie de test drive à minha condição física. E eis que no momento em que era preciso sentir-me forte e com confiança para enfrentar os 53km e os 3300 D+… Tumba!

O resto das férias foram simples: pensar, correr (às vezes com amigos), comer pouco, beber ainda menos e desfrutar das paisagens, rios e tudo o mais que a nossa mãe natureza nos oferece. A juntar a isto alguns momentos de humor deste nosso Portugal Português.


 Paisagem familiar

  Ruralidades



Ao menos alguém que festeje... 60km 4100 D+

... Porque até merece: 35º da Geral (9h30m)

Coisas estranhas (ou até não) que acontecem

 Para esquecer o UTDP



Ainda bem que avisam...

Sem comentários

Modelito minimalista: tronco nú, calções de surf e ténis Timberland
(o atleta da esquerda per supuesto...)

Quando esqueci UTDP e voltei... Foi tudo à frente.
O chamado: desbravar mato.

Ter-me-ei descuidado e coloquei blush a mais no rosto? Ou será reflexo da camisola?

Um esquilo provocador 

E no trail a Anabela!!


E quem é que já se levantou às 6.30m da manhã para ir correr no campo - e porque é a primeira pessoa a atravessar esse caminho - passa o tempo todo a sentir as teias de aranha no rosto?! Sensação única que só sente... Quem é filho de boa gente...

Mais um privilégio de quem corre no campo. :)))

Vamos lá embora que para cima é que é o caminho.