11 de julho de 2013

Uma aprendizagem...


A minha recente participação na Eco-Maratona de Monsanto, que distinguia dois percursos, um de 19km e outro de 42km, revelou-se a mais dura e difícil prova concluída até hoje.

As altas temperaturas, na ordem dos 35ºC à noite, que se fizeram sentir fustigaram os atletas sem dó nem piedade. A organização decidiu, e bem, adiar em meia hora a partida das provas. Ainda assim, quando os atletas da maratona partiram às 19.30m ainda se sentiam 39ºC. Uma hora mais tarde partiram os atletas do Corredor Verde, os 19km.

De manhã, tinha equacionado levar apenas o meu cinto com duas garrafas de 200ml, contando depois com os abastecimentos dos chafarizes de Monsanto. Em conversa com o Mister ele ordenou (Yes, Sir!) que eu levasse, no mínimo, 2 litros de água. Com o calor que se fazia sentir alertou-me para o facto de ter de hidratar de 10 em 10 minutos. Alertou-me, e bem, para essa questão. "O mais importante é hidratares bem" - disse ele. "Caso não o faças vais entrar em falência!" Fogo... Já basta o país estar falido... Escuso de ir pelo mesmo caminho!

Rumei logo pela manhã à loja e toca de comprar uma mochila. A parte chata é que não havia mochilas cor-de-rosa. Vai daí, toca de levar uma preta, horrível, feia, sem pinta nenhuma... Aqui está a coisa horrorosa (mas útil) que comprei. Belhác...

Feia nas horas!

A partir daqui começaram as preocupações: nunca corri com mochila às costas. E hoje com calor, na minha maior e mais difícil prova, iria correr carregada com 2 litros de combustível. Bonito...

Esta foi a primeira aprendizagem desta prova: a hidratação. Caso não tivesse levado estes 2 litros teria sido um inferno. Creio que neste campo a organização poderia ter estado melhor. Face às elevadas temperaturas deveriam ter disponibilizado mais água aos participantes dos 19km, não contando apenas com os chafarizes.

Depois de andarmos perdidos, encontrámos um ponto de abastecimento. Chegados lá encontramos uma voluntária carregada com bananas e um bombeiro de agulheta em punho que perguntavam: "banana ou mangueirada?" Era o que eu mais queria ouvir naquele momento!! Estava indecisa... Banana ou mangueirada?... Enfim... Sem comentários... E água, não? Não, só bananas ou mangueiradas. Siga!

Outra lição desta prova: a importância de ir em grupo. Trail à noite corre melhor se for feito em grupo. Algumas marcações falharam. E para quem conhece a mata de Monsanto sabe que até de dia aquele espaço pode ser perigoso. À noite então... Chamem-me mariquinhas, mas a verdade é que em plena noite escura andar sozinha por ali perdida é dose. O facto de estarmos três pessoas foi muito importante para manter o espírito positivo e seguir em frente até encontrar o trilho certo.

Não pelo que vi, mas pelo que soube, esta prova teve muitas desistências. Ouvi a seguinte expressão que acho que traduz muito bem a dificuldade da prova: "caíam que nem tordos". O percurso era dificílimo, o calor era insuportável e quem não ia abastecido com muitos líquidos e outros consumíveis energéticos dar-se-ia mal. Os abastecimentos da prova, na minha opinião, foram manifestamente insuficientes. Seriam suficientes, caso o dia e a noite não tivessem sido tão quentes.

A terceira e última aprendizagem, ou melhor reflexão, que quero partilhar é a "nossa" teimosia em fazer loucuras.

Não vivo da corrida, não sou uma atleta de elite, não tenho características inatas de corredora, o que consigo fazer faço-o porque treino, faço-o porque trabalho para isso. Sou daquelas que se não treinar ao fim de três meses não corre 5km. 

Para quê ir fazer uma prova em condições extremas? Enfim, extremas para mim, claro. Estou agora a lembrar-me do Carlos Sá na Badwater e já acho que Monsanto foi um oásis! Mas tirando estes atletas excepcionais como é o caso do Sá ou de uma Fernanda Maciel, aqui a Anabela não se pode comparar a estes atletas.

Acho que devemos ter bom senso e ponderação e conhecer bem os nossos limites. Por aqui na blogosfera, em conversas com amigos existe sempre um discurso muito positivo, do qual eu faço parte, admito, que incentiva novos desafios, novas aventuras. É assim, é genuíno que queiramos ir mais além. É normal que depois de fazer uma meia-maratona queiramos fazer a maratona. E depois, e depois, e depois... E depois? Em circunstâncias difíceis, como as de sábado ou domingo passado devemos ir em frente? Treinei naquelas condições? Estou habituada a correr com peso às costas? Estou habituada a correr com elevadíssimas temperaturas? Já fiz muitos trails?


NÃO!

Mas mesmo assim fui! A prova correu bem, mas poderia ter corrido muito mal. Fica-me a dúvida de quando deveremos virar as costas a alguns desafios. Desafios que, à partida, até parecem tangíveis mas que, na ultima hora, se revelam o pior dos nossos pesadelos.

Boas corridas!

6 comentários:

  1. É Quinta-feira e ainda me doem ligeiramente as coxas, o que só vem dar razão à tua reflexão. Mesmo assim, ontem já fui treinar.

    A importância de, em treino, simularmos o melhor possível as condições de uma prova é da maior utilidade e, pelo menos no meu caso, apesar de não treinar com mochila há cerca de dois anos, foi uma experiência que, mesmo passado este tempo todo, foi muito útil para Sábado.

    A questão dos limites também é importante, mas creio que o organismo começa a perceber isso muito bem e a dar-nos sinais de alerta com antecedência. Eu fui para esta prova perfeitamente tranquilo e a olhar para isto como uma meia maratona, mas com mais desgaste. Fez-se muito bem, mas penso que para o ano ainda conseguimos melhor (não só em termos de tempo, mas também de acabar com menos desgaste). Para isso, uns treinos em conjunto em Monsanto não eram mal pensados. O Paul Michel podia fazer um treino mais longo e nós algo mais curto. :)

    Fica a sugestão :)

    Bjs e boa recuperação!

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    1. Sem dúvida que a tranquilidade que nos caracterizou ao longo da prova foi determinante para a sua conclusão com sucesso. Fomos sem stress e conseguimos manter a calma mesmo nos momentos menos fáceis.

      Sugestão mais que aceite, Bluesboy! ;)

      Beijinhos

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  2. Eu estou com o Bluesboy, acho que entra pela forma como encaramos os desafios. Acho que, acima de tudo, tem de haver bom-senso e algum auto-conhecimento. "O incómodo que estou a sentir, é normal? É suportável, posso continuar? Ou, pelo contrário, é um sinal de alarme ou desconhecido (tonturas, enjoo, vómitos)?"

    Posto isto, a boa preparação é muito importante. Não só em termos de treinos, como de logística. Planos de ataque A, B, C e D. Podemos ir com um objectivo principal que tenha de ser adaptado às condições que vamos encontrar, quer de percurso ou pessoais, e há que ter essa capacidade de adaptação e flexibilidade para não insistir em coisas para as quais esse poderá não ser o melhor dia!

    Acima de tudo, lembrar que se corre por gosto. ;)

    Beijinhos e continuação de óptimas corridas!

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    1. Disseste uma coisa muito importante, mas que para mim às vezes é difícil fazê-lo: adaptar o nosso objectivo às condições que encontramos. Tento sempre dar o máximo para cumprir o tal objectivo. Se tenho que readaptar-me sinto que falhei, percebes? Mas isso acho que tem a ver com a minha (ainda) pouca experiência na "gestão" de provas e expectativas. Com o tempo vai lá! Ou não... ;)

      Beijinhos e boas corridas!

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  3. Oiga, eu acho que a malta anda a ficar demasiado "excitada" com as façanhas que vemos por aí, vejo tanta gente mal preparada a ir fazer loucuras sem saber minimamente o que vai encontrar...a Freita é o exemplo maior disso...os nossos heróis são o Carlos Sá, o Armando Teixeira, o Kilian Jornet, o Dean Karnazes entre muitos outros super-atletas.....adoramos correr, e imaginamo-nos a fazer façanhas idênticas.....quem não sonhou fazer o UT do Mont Blanc, agora a "moda" é a Badwater(ou UT Serra da Freita) ou Ironmans que atire a primeira pedra. Os blogues, os facebooks ajudam a isso - vemos muitos "comuns" mortais a fazer estas façanhas e contar a sua história...o que muitos esquecem é que para lá chegar tiveram que percorrer um caminho longo....muito longo aliás, de sacrifício e sofrimento. A não ser que se seja um atleta extraordinário, fora do normal não se pode passar de 8 a 80 (sem que a nossa saúde fique afectada). O que eu quero dizer, é que podemos e devemos sonhar com feitos maiores, mas só com tempo e treino é que vamos começar a conhecer os nossos limites, a aumenta-los, e só conhecendo os nossos limites e o nosso corpo é que vamos poder ultrapassa-los sem colocar a nossa vida em perigo. Eu corro mais "a sério" à 3 anos e meio, já fiz algumas coisas giras mas quero fazer muito mais, mas não a qualquer preço...mas sendo ainda um jovem de 40 anos (ok, quase 41), ainda terei muito tempo pela frente - se fizer tudo agora o que fica para fazer nos próximos 100 anos? Pois... :)
    Sigam os V/ sonhos mas sejam realistas - o que não é fácil - eu sou do tipo "olha para o que digo, não para o que faço" - este V/ amigo está aqui com esta conversa toda mas esteve a uma unha negra de se inscrever na UT Serra da Freita deste ano, mas o bom senso imperou - mas para 2014 ando a matutar num loucura grande - mas com tempo para a devida preparação..
    Beijinhos e Abraços



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    1. Percebeste muito bem o que queria dizer e as dúvidas que (ainda) tenho. Mas isso tem a ver com o facto de ainda ser "verdinha". Tenho-me por uma pessoa ponderada e consciente dos meus limites, mas fiquei assustada com algumas coisas que vi e soube desta prova. Pensando: uma dia serei eu? Terei sempre discernimento para saber o limite entre o sonho e a conquista?

      Na Pampilhosa terás que partilhar essa loucura de 2014...

      Beijinhos e bons treinos!

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