30 de março de 2015

Outra mudança (de rotinas)


Há um par de semanas falei-vos em mudanças, lembram-se? Até comecei pela cor do cabelo. Que outras mudanças introduzi na minha vida? Mais uma ou outra. Fala-vos hoje de mais uma.

Passei a acordar às seis da manhã para ir ao ginásio. Percebi que chegar a casa ao fim do dia, ir correr e depois ter de fazer os exercícios de força e flexibilidade em casa com duas melgas pequenas de volta de mim, constantemente a interromper… Não dava…

“Ó mãe, como é que se escreve consultório? Leva acento? E trazer, é com s ou com z?”; “ó mãe, a mana não me deixa ir para o computador”; “Pois não, o computador é meu e eu sou mais velha!”; “Cala-te, és mais velha, mas és mais parva, ó cocó. E eu percebo mais de computadores que tu”; “Percebes, é de futebol. Cala-te, ó parvalhão”; “Ó mãe, a mana chamou-me parvalhão”; “E tu chamaste-me cocó”.

CHEEEEEEGGGGGGGGAAAAAAAAAAA !!!!!!!

Não há exercício abdominal ou flexão que aguente. Acabava por me enervar e muitas vezes já não fazia nada de jeito. Por isso, comecei a levantar o rabinho cedo da cama para ir ao ginásio. Há quem diga que não é capaz, que não consegue levantar-se a esta hora para correr, mas eu acho que quem diz isto nunca experimentou. Sei que há biorritmos diferentes, mas depois de uma hora de corrida e outra de musculação ficamos prontos para enfrentar o mundo com muito mais garra. Pelo menos comigo é assim. Resulta.

E nunca mais me enervei. Quer dizer, às vezes enervo-me. Quando vejo umas raparigas, com licras justas, a passearem-se no ginásio com um corpo esbelto e tonificado. Admito que isto me provoca um camadão de nervos.



6 da matina aqui vou eu!!!


E vocês já alteraram alguma rotina? Continuam a dizer que não conseguem, que não têm tempo? Que já chegam a casa cansado/as?

Deitem-se cedo e acordem mais cedo e vão até ao ginásio ou até à rua. Agora com o horário de verão não custa tanto. Experimentem só um dia. Acordem uma hora mais cedo e corram 45 minutos. Alonguem em 10 minutos e voltem para casa. Tomem duche e (re)comecem o vosso dia.

Boa semana! E comam poucas amêndoas!

25 de março de 2015

Nova coleção da ADIDAS

Meninas, já espreitaram a nova coleção da Adidas? Está ultra feminina e cheia de asas.

Assim de repente só comprava metade da loja. Mas isso sou eu que não ligo a estas coisas e sou uma rapariga poupada.


  












24 de março de 2015

Almeirim 1 - Resto do país 0


Deixem-me recuar 15 anos para vos explicar o que foi o trail de Almeirim.

Casei no Ribatejo. Na igreja Nossa Senhora da Conceição em Muge. Na altura fazíamos questão que o catering fosse típico da região e por isso escolhemos uma empresa local que nos prometeu o melhor dos banquetes. A minha mãe e a mãe do Paul Michel andavam sempre preocupadas com a parte gastronómica da festa, pois queriam, claro, que tudo fosse perfeito. Sempre que nos reuníamos com a senhora responsável pelo catering as nossas mães diziam vezes sem conta e sempre a mesma coisa:  “veja lá… Não queremos que falte nada. Por favor, que nada falte aos convidados, nem comida nem bebida. E veja se tudo está impecável. Nem que seja preciso pagar mais, mas assegure que nada falta”. Todas as vezes que estávamos com essa senhora as nossas mães repetiam esta ladainha.

Até que um dia – e porque a senhora já devia estar cheia de as ouvir (e com razão, até eu!) – responde-lhes assim: “as senhoras já alguma vez vieram a um casamento ao Ribatejo?” Ambas acenaram com a cabeça em sinal negativo. “Bem, me parecia…Fiquem descansadas.

Bom, quando duvidarem se em Almeirim as marcações estarão corretas, se os abastecimentos serão de qualidade, se a sopa da pedra estará deliciosa, se as bifanas chegarão para todos, se a organização estará impecável nas suas obrigações… Eu pergunto: “Alguma vez fizeram o trail de Almeirim? Bem, me parecia… Fiquem descansados.

Começando pelo fim: tinha o dorsal para os 30km. Fui avisada de antemão para não os fazer (sim, Mister, pela milésima, octogésima vez tens razão!) A recuperação do empenho canarinho ainda se fazia sentir e o meu joelho esquerdo tinha estado, até à semana anterior, a dar sinais de querer descanso. Ainda pensei em trocar o dorsal, mas… Pensamos sempre assim: “epá, vamos lá tentar, nem que vá (ainda mais) devagarinho”.

Foi o que fiz. Tentei. Mas só fui até ao km19. A partir do Km14 comecei a acusar algumas dores no joelho e a partir daqui já pouco ou nada corria. Aliás, do km16 até ao abastecimento dos 18,5km já só consegui caminhar. E quando assim é não estou ali a fazer nada, só a piorar a situação. Mas acreditem que desta vez não fiquei nada triste. Só tive pena de não ficar a conhecer o resto do percurso dos 30km.



Este trail adivinhava-se muito rápido (coisa que não sou, nem nunca serei) pelo relevo do traçado. Quem dá o que tem a mais não é obrigado. Em Almeirim não esperam grandes e longas paredes. Tivemos algumas paredes, mas curtas. Ainda assim também difíceis. Era um trail muito ‘corrível’ num piso muito acessível. Dizia alguém que entretanto me acompanhava na prova: “este trail é para atletas de estradas”. E era.

Como dizia: tive muita pena de não acabar o trail pela prova em si. Esta prova vale muito a pena. A organização esteve sempre bem, desde o levantamento do dorsal, que se fez sem problemas, passando pelos abastecimentos que eram soberbos (até havia vinho da região e chouriço do bom!!) até ao almoço no final. E também havia tomate com sal. Prova onde haja tomate com sal tem o meu coração derretido.

As placas humorísticas ao longo do percurso também ajudaram a aliviar a tensão. Algumas delas bem engraçadas, outras nem por isso: “prepara as unhas” – dizia uma delas . Vocês, por acaso, sabem a quanto é que está a manicure, sabem? Confesso que a esta não achei graça.






O almoço foi servido nas instalações das escolas, na cantina, onde até aqui tudo funcionou muito bem. Sem grande confusão, havia uma fila de tabuleiro onde cada um retirava uma sopa (ou duas, ou três se quisesse), uma bifana e um doce regional, o Pampilho. A seguir servia-se de vinho tinto ou branco da região. Eu e o Paul Michel fizemos três brindes à nossa saúde. Aqueles copitos de vinho estavam a cair que mais pareciam água fresca no deserto do Sahara.

Um pequeno à parte, pela primeira vez, bebi vinho nos abastecimentos. Disseram-me que o vinho da região tinha propriedades únicas que favoreciam o desempenho dos atletas. Era uma espécie de doping autorizado! Quando dei por terminada a minha jornada não o fiz sem antes brindar com o atleta vassoura, o Francisco (a quem mando daqui um grande abraço de agradecimento). Fizemos um brinde à nossa saúde e lá tivemos de beber de uma golada só um copito de vinho branco.

A medalha, que não recebi, mas o Paul Michel sim, era de uma originalidade ímpar: uma pequena colher de pau a simbolizar a colher do monge que faz a sopa da pedra. A isto eu chamo fazer bem e diferente.

Não esperem o maior dos empenos neste trail, na lezíria ribatejana é difícil arranjar desnível, mas o que o trail de Almeirim vos pode proporcionar é uma prova bonita, onde poderão conhecer esta zona e desfrutar dos encantos gastronómicos, paisagísticos e humanos da região. Em Almeirim sentimos que se dedicaram de corpo e alma à organização do evento e isso vê-se nos pequenos detalhes e mimos que nos oferecem ao longo do dia. Servirem-nos uma sopa e dizerem-nos logo: “venha repetir, menina, vê-se pela sua cara que correu muito! Sopa como esta não há!...” revela que nos estão a tratar com carinho.

Por isso, voltarei a Almeirim. É um trail à porta de casa, muito bem organizado e que merece que cada atleta retribua com a sua presença toda a dedicação e carinho que a organização empregou neste evento. Quando se faz assim, faz-se bem! Parabéns, gostei muito!







 Obrigada Almeirim!



P.S. – Acho que sei o segredo desta prova ter sido um sucesso: teve na organização gente que corre. E isso, meus amigos, faz toda diferença. Fica a dica. 

19 de março de 2015

Não resisto...

Então não é que pela primeira vez na história da era moderna, o Paul Michel chega à meta com mais estilo que eu?!?!


Ouuuuu, uupppp 


Parabéns, miúdo, estás uma máquina! É so trocar umas peças e ficas como novo. :))

16 de março de 2015

Ainda a Transgrancanaria




Depois de terminar a prova fui até à zona de finishers para jantar. Apesar de ter encontrado um autêntico repasto, verdade seja dita, desta vez a organização esteve bem, só consegui comer uma salada e beber uma coco-cola. Ainda mal me tinha sentado para comer e o meu joelho esquerdo começa a dar sinais de dores fortes, na zona da articulação interna.

Vou ao meu telemóvel e tenho duas chamadas telefónicas. Uma delas era do Paul Michel. Aconteceu alguma coisa. Liguei ao Mister e fiquei tranquila quando soube que ele estava bem e que apenas tinha ligado para saber de mim. Estranhei esta atitude. Não é normal. Algo se terá passado. Ele nunca me liga durante as provas.

Vou para casa, tomo banho e volto para a meta. Aqui começo a receber mensagens de amigos que me vão dando conta da sua situação. Onde está e a que horas se prevê que chegue. Sento-me e vou apreciando os atletas a chegarem à meta. Já sabem que me emociono sempre com as chegadas à meta. Vê-se de tudo: gente fresca, gente podre, gente que sorri, que chora, que já não corre…
Eram perto das 23h quando recebo um telefone do Paul Michel a dizer: “estou quase a chegar à meta. Estás aí?”

- “Estou. Como sempre”. (Até hoje nunca me ligou a dizer que estava quase a chegar. Ele nunca me liga.)

Levanto-me para o tentar ver e meia hora depois vejo uma luzinha que balanceia ao ritmo tão característico que é o dele a correr. Era ele. Vinha aparentemente bem. Corta a meta alegre a distribuir inclusive beijos pela assistência, imaginem… Sobe a rampa da meta e dá um pulo.



Vou ter com ele, abraço-o e ele pergunta-me: “acabaste a prova?” “Sim, acabei.” Disse-o nada vaidosa. Mas ele confessou: “nunca acreditei que fizesses isto. Por isso te liguei. Achei que te irias matar naquelas descidas. Nem jeito tens para descer a direito, quanto mais naquele terreno. Isto era horrível. Os últimos quarenta e tal quilómetros são horríveis, não se faz um percurso destes numa prova destas. Anda vamos berber uma cerveja”

125Km depois, 24h depois ele só quer beber uma cerveja e ir para casa.


Aguentas-te aí em pé para tirar uma foto?

* FIM *


Não há mais a contar. Mas queria deixar bem claro que foi muito importante ter ido até à TGC. Se me perguntarem se recomendo esta prova, respondo categoricamente NÃO. Se é para viajar e gastar dinheiro há locais e provas muito mais interessantes. Mas esta prova, para mim, ou para nós, teve uma componente muito positiva: foi uma grande aprendizagem a vários níveis, e que nos pode ser muito útil no futuro.

Não contava com aquele terreno, não contava com aquela dureza de terreno, não contava com tão fracos abastecimentos. Fui ensinada a ser quase auto-suficiente em qualquer prova. Costumo ir carregada que nem burro. De todas as outras vezes digo a mim mesma: “vês, afinal, para que levaste isto tudo? Trazes tudo de volta. Não utilizaste nada”. Pois é. Até ao dia em que vais a uma prova e utilizas tudo o que levas, porque se assim não fosse terias ficado lá, a meio do caminho.

Para terem noção, além de todo o material obrigatório, e que não era pouco, levei duas bisnagas de gel, quatro saquetas com pó isotónico para misturar em água quando chegasse aos abastecimentos, duas barras energéticas, um concentrado de frutas e uma flapjack (um bolo concentrado altamente calórico). Regressei apenas com a flapjack. Dei a uma barra energética a um atleta e Magnesona a outro que se queixava bastante dos gémeos.

Tive de aprender a gerir os líquidos. Consumi 6 litros de líquidos durante toda a prova. A dada altura, a meio da prova, no pico do calor, percebo que já tenho pouca água. Tenho de fazer a gestão da mesma. Nunca passei propriamente sede, mas tive momentos em que me apetecia beber sofregamente e só podia molhar a boca. Neste momento lembrei-me do Paul Michel e das sensações que descrevia na Marathon des Sables…

Aprendi a gerir as dores. Pela primeira vez, numa prova, tomei paracetamol (que também levava comigo, além da Magnesona, já a pensar que o meu pé me podia pregar uma partida). Mas o paracetamol só me aliviou ligeiramente. Sabem o que me aliviou as dores? Adivinhem? Comecei a cantar bem alto, provocando inclusive alguma risota em alguns atletas que passavam por mim. Lembro-me ir a cantar o Footloose em altos berros! Enquanto cantava alto, mistura uns pseudo-gritos de dor para ninguém desconfiar. Que figura… Valia tudo.

Trago comigo a maior das medalhas de finishers: o ensinamento que nestas provas longas devemos tentar mesmo ser auto-suficientes. Devemos levar connosco tudo aquilo que achamos que vamos precisar: alimentação, hidratação, medicação.

A toda a comitiva portuguesa que conheço e que comigo privou estes dias só tenho que enviar o maior dos abraços. Foram todos GRANDES. Todos terminámos e com desempenhos, ao nível de cada um, muito bons.

Para testemunhar o meu estado de espírito, e para que acreditem que o relato da prova não foi piegas ou exagerado, aqui fica a foto da chegada à meta.


Agora digam-me: até hoje, quantas vezes já me viram chegar assim?




Mas o pior, pior, pior de tudo sabem o que foi? Não vi o Krupicka. Nem a Fernanda Maciel. Só vi a Núria Picas, e à distância.

Tudo me correu mal, não tive sorte nehuma... :)

11 de março de 2015

Transgrancanaria 2015 - Era um dia...


Pela primeira vez, antes duma prova, ela dormiu toda a noite. Mas só até às cinco da manhã. Bastava ter acordado às sete, mas a partir das cinco não mais pregou olho. As fortes rajadas de vento que se ouviam lá fora levam-lhe os pensamentos como se folhas secas de outono se tratassem. Esses pensamentos só tinham um destino: ele, que já andava na montanha há mais de seis horas. Na verdade, não só ele. Ela também pensava nos outros. Outros amigos da “tribo”, que também calcavam as pedras da montanha. É impossível ser egoísta ao ponto de só pensar nos nossos. Afinal de contas, ali, os nossos, somos todos.

Sai de casa sempre com receio de se ter esquecido de algo. Frontal? Confere. Telemóvel? Confere. Manta térmica? Confere. E assim vai, novamente em pensamentos, a conduzir até à zona dos autocarros que a levariam até à meta, daquela que ela já sabia que iria ser, a sua prova mais difícil.

O caminho até Garañón faz-se, com algum sobressalto, por estradas muito estreitas e ladeadas por precipícios. Alguns atletas recusavam-se até a olhar pelo vidro.

No início da viagem o rapaz sentado a seu lado mete conversa. Era escocês. Era a sua primeira maratona de montanha. Achava que a prova era fácil, sempre a descer, tal como o gráfico indica. Ela abanou a cabeça para os lados, como quem queria dizer: “atenção que há duas subidas muito fortes”. Mas ele desvalorizou. Nesse dia ela não estava para grandes conversas e deitou a cabeça para trás em sinal de “não quero conversar”. Ele percebeu e não mais abriu a boca. Era um dia em que ela não estava para conversas.

Pela primeira vez, chega à meta sozinha. Não fala com ninguém. Nem lhe apetece. Tira duas ou três fotos sem interesse à zona de partida. Quase como se fosse um ato de obrigação. E foi. Era um dia em que não lhe apetecia tirar fotos.




Ainda estica o pescoço para ver se vê o português mais conhecido do trail nacional, mas nada. Esteve quarenta minutos a olhar em redor. Olhava para corpos esbeltos, depilados, musculados, alguns já a tresandar a suor. Reparou nos buffs, nas marcas dos equipamentos, nos ténis que usavam, nos óculos, nos gadgets… Havia ali todo um mundo cosmopolita no que toca a cores, materiais, marcas e estilos. Era um dia em que lhe deu para reparar e criticar os outros.

Apenas a sete minutos do tiro de partida entra na zona de check in da meta onde lhe conferem o dorsal, a luz encarnada traseira e o chip preso à mochila. Um minuto para a partida. O speaker começa a tentar galvanizar a multidão com gritos de: “una meta, un sueño!” Grita pelas mãos no ar enquanto o drone sobrevoava as várias cabeças coloridas. O momento da partida causa-lhe um aperto grande no coração. Do género, os dados estão lançados e as fichas estão todas apostadas. Agora é ir. Ir atrás.

Hoje tem a noção que fez a prova com a cabeça. Ainda não vos tinha dito? Ela acabou. Sim, fez a prova, em 8h58m.

Pela primeira vez teve de puxar por este trunfo porque o corpo teimava em não dar resposta. E pela primeira vez, surpreendeu-se a si própria por isso. Com temperaturas elevadas, dores musculares e uma má nutrição durante a prova, fez com que ela se sentisse a Núria Picas lá do sítio. Era um dia em que o corpo não queria colaborar.

Estava muito calor. Nos abastecimentos era comum ver-se atletas a vomitar. Uma mulher chegou mesmo a desfalecer. A partir do 20ºkm o som das ambulâncias era mais frequente que o dos atletas a passar por ela. Mas eram raros os que passavam que não tinham uma palavra de conforto de ‘ânimo’! Retém na memória, desta fase da corrida, uma senhora, muito idosa, que olhou para ela, com piedade, e lhe dizia: “alegria nesse cuerpo, Macarena!!” Nesse momento, parou, debruçou-se sobre os bastões e derramou a segunda lágrima da prova. Ali ao km20. Não havia alegria nenhuma naquele corpo, nem naquela cabeça. Era um dia de poucas forças.

Ainda não vos tinha falado da primeira lágrima? Foi derramada na partida. Partiu com a quase certeza que a prova não seria nada fácil, apesar de tudo e todos pensarem o contrário. Foi uma lágrima apenas de tristeza. Não de raiva, não de frustração, não de mágoa. Apenas tristeza. Para ela correr tem de ser uma alegria, uma festa, uma exaltação de emoções. Mas aquele dia, era um dia de poucas alegrias.

O truque foi fazer a prova em quatro partes. Tal como o gráfico ilustra. A cada abastecimento enganava-se a si própria dizendo: “agora são só mais 15km”; “agora são só mais 9km” e assim por diante. Até à meta. Fez a prova toda a enganar-se a ela própria. É uma espécie de “tenho uma surpresa para ti, mas só te deu quando chegares ao sítio x”. É mesmo tonta, o raio da miúda! Mas a verdade é que se enganou e resultou.



O percurso da prova era demasiado técnico, duro, sujo, quente e empoeirado para ela. A segunda grande descida faz-se por um single track com pedra cascalheira solta, sempre com um precipício ora do lado direito, ora do lado esquerdo. Foram quase duas horas a descer. Sempre a bater com as pernas de forma firme para evitar a queda. Não é disto que ela gosta. Ela gosta mais de corridas de ‘meninas’. Daquelas onde se pode correr. Ou pelo menos, daquelas onde ela tem jeito para correr. Ali não. Ali ela só conseguia progredir de forma a evitar a queda.

O calor foi outro grande inimigo. Muitos atletas desidrataram, outros caíam por exaustão. No caso dela isso não aconteceu porque levou isotónico e fazia, em cada abastecimento, a sua própria bebida. Nos abastecimentos não havia isotónico. Nos abastecimentos havia: bananas oxidadas, laranjas, nozes e amêndoas, cubos de fiambre e queijo, snacks salgados, pão rijo, água e coca-cola. Uma lição que apende: tentar ser auto-suficiente, mesmo que a organização garanta abastecimentos. Nunca se sabe o que (não) se vai encontrar. Era um dia de muito calor e pouca comida.

Ela fez a prova a ingerir isotónico, água, laranjas e amêndoas. Apenas isto. Um dia inteiro nisto. Desilusão no que toca a abastecimentos. Faltava um caldo que reconfortasse o estômago, falta mais cuidado na apresentação dos alimentos (bananas oxidadas?), faltava muita coisa. Era um dia em que faltava muita coisa.

No último abastecimento dizem-lhe que faltam 8km para a meta. Já com algumas dores nos gémeos teve de percorrer cerca de 4km num leito de uma espécie de rio sem água, um empedrado irregular que só serviu para provocar entorses àqueles que iam mais esgotados.

Os últimos 3km foram feitos na companhia de um senhor residente na ilha. Foram 3km a puxar um pelo outro. Ali ela já teve vontade de conversar e deu-lhe conversa. Ficou a saber o seu nome, de onde era, o que fazia na vida, quantas provas já fez, quais as provas que fez, por onde já viajou… Ela contou-lhe parte da sua vida também. Chegaram os dois à meta, cumprimentaram-se e cada um seguiu para seu lado.

Saiu da zona de meta e quando lhe envergaram a medalha derramou a terceira lágrima. A menina que lhe ofereceu a medalha de finisher disse-lhe: CAMPEONA! MUJER FUERTE!

Era um dia de poucas coisas boas. Beijou a medalha e foi-se embora. Foi para casa tomar banho, trocar de roupa e voltar à meta esperar o Paul Michel.

Na secreta esperança que para ele tenha sido um dia de muitas coisas boas.


(Ainda vou dar outra perspectiva desta prova. A perspetiva que falta: de quem está na meta à espera. Até já)

4 de março de 2015

Vai ser um filme - TransGrancanaria 2015



Elenco: Eu e bué pessoal

Ator secundário: Anton Krupicka (hihihihihi)

Música: "Ai, a pu#$% da minha vida", Xutos e Pontapés. Ou então aquela do Pesadelo em Elm Street. Lembram-se? Essa mesma.

Realização: Eu, se conseguir tirar o telemóvel da mochila (é possível que tenha dores nos braços).

Sinopse: Adaptado do livro 'Ou Corres ou Corres' retrata a história de uma jovem... Bom, de uma senhora com aspeto jovial que vai até à GranCanaria fazer uma prova de 44km. Este filme, próximo de uma tragico-comédia, retrata as peripécias desta senhora que, tropeça num calhau gigante (era só uma pedrita) e fica caída no chão. Quem virá em seu auxílio?



* * * Estreia este Sábado * * *



Vamos lá falar sério. Vou calma e serena até à ilha espanhola. Tenho a convicção de que vou conseguir terminar a prova. Tenho também a convicção de que, fisicamente, não estou nos meus melhores dias, mas isso não interessa nada. Não será isso que me impedirá de tentar fazer esta prova. Quero desfrutar aqueles 45.5km (eram 44km mas a organização mudou a meta de sítio e já avisou do bónus de 1.5km) aproveitando esta viagem para sonhar com outros voos. O Paul Michel irá fazer 125km com 8500 D+ mas desta vez também não vai com o ânimo em alta. A título de curiosidade: ontem foi treinar com os ténis com que treina sempre, e com os mesmos que vai fazer a prova, e pela primeira vez ao fim de meses faz uma bolha na zona do calcanhar. Dá que rir, não é? Enfim, isto parece a saga: "tudo nos acontece". Mas também é isso que dá outra cor a estas aventuras. Se tudo fosse certinho e direitinho não teria tanta emoção.

Sei que aqui à distância me acompanharão, nem que seja em pensamento, e que a vossa força chegará até mim. Da minha parte, vou tentar chegar à meta.

Hasta ahora, cariño!

2 de março de 2015

Transgrancanaria 2015 - A elite

Nas últimas semanas a organização da Transgrancanaria, através da sua página de facebook, vem publicando as vedetas do trail a nível mundial que marcarão presença nesta edição. Escolhi algumas.


É desta Nandinha, é desta! Se venho de lá sem um autógrafo teu...


Iker, um senhor da Salomon. A mi me gusta mucho sus gafas.


Carolina ói-óai, Carolina óai-meu-bem!

Este dá uns ares de Krupicka, não acham?

Pára. Não mexe. Não sorri. Não respira.

A malta da Salomon tem sempre muita pinta. Gosto do Buff.


 
O que levas na mão direita, Carlitos? Uma banana?


Esta senhora é mesmo de se tirar o chapéu. Que CV...



Vá, Armandito, filho, é pí'além, é! Upa, vá...


Ah pois...

Na falta de treinos para falar, brinca-se. Já vos disse que já sinto as borboletas na barriga?