5 de setembro de 2014

53km, 3300 D+ e 12h39m a degustar montanha

Aquele era o meu dia.



...

Acordo às 3h30m da manhã. Uma noite muito mal dormida. Apesar de ter ido para a cama às oito da noite creio ter dormido apenas uma hora. Duas horas se tanto. Toda a noite rodopiei na cama. Ora pensava no Paul Michel, que se encontrava em prova, com os restantes amigos, ora pensava na minha prova que estava prestes a começar.

Quando o despertador toca foi como se uma dor de barriga se apoderasse de mim a querer dizer-me: “não vás, dói-te a barriga e dormiste mal. Lembras-te que no Ultra Trail Douro e Paiva, onde desististe, também dormiste mal…” Depressa comecei a vestir-me e a tomar o pequeno-almoço. Tinha tudo pronto de véspera: bastões, mochila com material obrigatório, reserva alimentar, mini-farmácia, roupa (impermeável, t-shirt térmica), etc.. Ia carregada que nem um burro. Mas ia segura. Tinha tudo o que poderia necessitar.

Saio de casa sozinha, sem ninguém. Costumo sair sempre com o Paul Michel. Naquele dia estava por minha conta. Era de noite. Caminhava sozinha pelas artérias de Chamonix e não via ninguém. Costumo ir sempre na risota e na brincadeira para as provas. Desta vez ia com ar sério, mas ao mesmo tempo sereno. Perguntava a mim própria: será que hoje é o meu dia?

Ó faxabôr, algum outro Deus me pode dizer algo?! Já que o meu parece que amarrou o burro? O meu Deus às vezes faz-me destas. Quando preciso dele com urgência diz-me que está ocupado. Bom, se pelo menos estiver ocupado com o Paul Michel e os meus amigos que já estão em prova, menos mal…

Entro no autocarro que me levará ao meu destino e começo a sentir-me tranquila. Acomodo-me de forma a ir o mais confortável possível. Lembro-me das palavras do Mister: “leva roupa confortável, tipo um fato de treino quentinho, tens pelo menos uma hora de caminho, aproveita para dormir”. Dormir?... Quem é que conseguia dormir?

Perto das cinco e meia da manhã toca o meu telemóvel. Era o Paul Michel: “não queria que saísses sem saber que estou bem, mas ainda me faltam umas quatro horas para chegar à meta. Só te quero dizer uma coisa: nunca ponhas a tua vida em risco. Se tiveres de o fazer desiste desta merda”. Desistir? Ele falou em desistir quando eu ainda nem sequer comecei? Eu precisava ouvir tudo, naquele momento, menos aquele discurso tão derrotista. Percebi logo que o estado de alma dele não era o mesmo aquando da Marathon des Sables. Percebi que aquela prova estava a ser um suplício e que ele só a queria acabar. E desta vez sem sorriso no rosto (o que se veio a confirmar mais tarde).

Chego ao destino e encontro-me com o meu amigo Paulo Soares, que iria fazer também a prova comigo. Antes de partir ainda há tempo de falar com a Ana. Sim, com a Ana. Nesse momento, ainda soube por ela que o Paul Michel estava em bom ritmo até à meta. Confesso, que senti uma pontinha de inveja. Já está, tu já conseguiste, mas eu ainda nem sequer parti. A Ana diz-me: “olha, eu sei que tu não sabes, mas eu sei que vais conseguir. É que sei mesmo!

Pois… Pelos visto parece que todos sabem, menos eu…

Naqueles minutos prévios à partida o ambiente que se vive é de festa. E que festa. As pessoas abanam os chocalhos e batem palmas. Vibram com aquela festa. Recordo que a minha prova, a OCC, realizou-se este ano pela primeira vez. A vila escolhida para a partida, Orsiéres, estava ao rubro. Os habitantes estavam orgulhosos de nos receber. Havia imensas crianças. Pergunto-me se já haveria escola ou se nesse dia houve dispensa para ir apoiar os atletas (não me admirava nada). O speaker entusiasmava-nos, as pessoas batiam palmas, pediam-nos para acenar com os braços para tirarem fotos, um drone sobrevoava as nossas cabeças… E os chocalhos abanavam parecendo sinos de igrejas. É a loucura!



Estava dada a partida. Atravessámos as ruelas de Orsiéres debaixo de um som estridente: gritos, palmas, chocalhos, cartazes, fotógrafos… Meu Deus, que festa! Todos gritavam: allez, allez!!! Bom courage!! (Ainda hoje oiço as vozes, acreditem…) Por duas vezes tive a sorte de ouvir: allez jeune fille du Portugal, allez!! E o mais curioso é que ouvi umas duas ou três vezes alguém comentar: regardent, ils sont de Portugal (emigrantes, talvez, espantados por nos verem ali). Enfim, somos os maiores!

A prova começou e começou… A subir! Mesmo dentro da vila o percurso foi sempre a subir. As crianças ficam loucas. Algumas levam cartazes feitos por elas. Um grupo de pessoas deu-se ao trabalho de fazer um mega-cartaz com todas as bandeiras participantes. Ainda pensei para mim: “somos só meia dúzia, não devem ter posto lá a nossa…” Pois enganas-te, menina. Estava lá a nossa bandeira.

Começamos a correr e começo a sentir calor. Ao fim de 3km tive de despir o impermeável. Pouco depois afunilamos numa subida e perdemos ali vários minutos. Ficamos parados o que nos permitiu conhecer mais dois portugueses que até à data não sabíamos quem eram. Eram dois jovens portugueses residentes na Suíça. Emigraram há quatro anos em busca de uma vida melhor. Trocámos algumas palavras e pouco tempo depois eles seguiram à nossa frente.

Nesta altura digo ao Paulo Soares: “vai à tua vida, moço. Não esperes por mim, já sabes que sou lenta. Esperas por mim na meta, pode ser?” Ao que ele me responde, nas suas sempre poucas palavras: “eu não estou com pressa para acabar isto. Além disso vou a gerir o esforço”. Fiquei desconfiada da sua estratégia. Ele corre para chúchú e agora vai aqui armado em ama-seca… Hummm…

Percorridos 7km chegamos ao primeiro abastecimento. Hidratámos bem e enchemos os depósitos das mochilas e seguimos viagem. Creio que estivemos ali uns três ou quatro minutos, não mais. Sentia-me bem. Sentia-me bem disposta, alegre, contente e confiante que hoje poderia ser o meu dia. O Paulo Soares estava fresquíssimo, mas teimava em não me largar. Eu percebo, tenho este efeito junto dos homens! Eheheheheheh

Neste abastecimento desconfiei da sua estratégia para a sua prova: passava tão-somente por não me largar. Ele queria certificar-se que eu acabava. Hoje tenho quase a certeza que isto foi uma encomenda da mulher, a Ana. Sim, a Ana.

Ao sair do abastecimento passamos pela parte mais rolante da prova. Aqui corremos uns bons quilómetros. Entre pequenas subidas e algumas descidas, pouco acentuadas, conseguimos correr e conversar. A passagem por Champex é qualquer coisa… É lindo! Maravilhoso! Aqui perdemos vários minutos a tirar fotos. Uma espanhola ofereceu-se para nos tirar uma foto. E que bem que ficou.

Champex

Ao km13 começa a primeira grande subida. Lembram-se do gráfico? Não?



Fiz esta subida com muita cautela. Calma e serenamente, tinha receio de me espatifar à primeira. Chegados ao cimo falta-nos o ar da paisagem que temos à nossa frente. O dia estava radioso, o sol brindou-nos sempre com a sua presença. Não podia pedir mais nada, pois não? Estava tudo a ser perfeito.


Eu vim de lá de baixo



Agora só faltava eu cumprir com a minha parte. Afinal Deus estava a dar-me aquele sinal. Estava a dar-me tudo: sol, calor, boa disposição, boa companhia… Agora só faltava correr até à meta. E isso só dependia de mim. E do anjo da guarda que me acompanhava, o Paulo Soares.

Fiz as subidas a pensar na minha Pampilhosa, na subida dos eucaliptos, que só tem uns 400m D+, mas onde fiz vários treinos. Subi ao som do teléc-teléc dos bastões a bater nas pedras e pensava para mim: estás na subida dos eucaliptos e isto não custa nada. Quando pensava isto olhava para cima e exclamava: Meu Deus, aquilo lá em cima são pessoas? Parecem pioneses coloridos! Mas conseguia. Conseguia sempre. Esta já está! Já só faltam mais quatro subidas destas!


Repito: eu vim de lá de baixo

Em pequena morria de medo das vacas. Hoje andei a correr no meio delas.

Depois de subir, desce-se, não é? Pois as descidas foram para mim uma surpresa. Contava conseguir correr com mais ritmo, mas parte das descidas tinham zonas bastante técnicas e aqui eu sou uma naba e por isso nunca arrisco muito. Descida feita até Trient, o primeiro grande abastecimento. Aqui tínhamos 24km feitos. Estávamos praticamente a meio da prova (achávamos nós…). Eu sentia-me fresca e fofa! Estava contente comigo. Aqui, em Trient ao km24 começo a sentir que hoje poderia ser o meu dia.




Enquanto comia a canja (aqui comi 3 tijelas de canja! Ahhh, bruta!) pensei que não me sentia nada cansada, nada fatigada, não me doía nenhum músculo, estava pronta para seguir viagem. E de cara alegre!

Saímos de Trient rumo ao próximo abastecimento em Vallorcine. De Trient a Vallorcine tínhamos 11km pela frente, mas… E há sempre um mas… Nestes 11km enfrentaríamos a maior e mais dura subida da prova. Esta, a subida até Catogne: dos 700m aos 2200m em 4km.



Nesta subida começo a ultrapassar várias pessoas. Algumas delas já iam em grande esforço e sofrimento. Lembro-me de duas em particular: um rapaz que se deitou à sombra e pediu para lhe esticar as pernas, e uma senhora, na casa dos 50 anos, que me fez lembrar a Anabela na casa dos 30 anos no Ultra Trail Douro e Paiva: dava um passo e parava. Respirava forte, dava outro passo e parava.


A meio desta subida lembro-me de pensar no seguinte: se chegares ao fim desta subida e depois fizeres a descida estás a 18km da meta. Olhando para o gráfico bem sei que ainda tinha mais subidas para fazer, mas depois daqui tens 2/3 da prova  feita. E se me sentisse bem qual era o motivo para não chegar ao fim? Siga!

Aqui, neste momento, e pela primeira vez, disse só para mim num sorriso tímido: “tu vais conseguir, mulher!” Pela primeira vez, não tive receio de começar a deitar foguetes antes da festa. Cheguei a Vallorcine com "aquele" meu sorriso. Desci para Vallorcine com a confiança e a certeza que merecia tudo aquilo e o que mais Deus me pudesse oferecer. Afinal Ele estava lá.



Cheguei a Vallorcine e tinha amigos meus à espera. O Miguel Catarino e o Rui Barbosa com as suas famílias. Foi um bálsamo. Encontrar ali as “nossas gentes” foi como estar em casa. Curiosa esta sensação, porque eu senti-me sempre em casa. Ao longo de toda a prova nunca me senti “estrangeira”. Comi bastante em Vallorcine. Mais duas tijelas de canja!


Ó p'ra nós prontos p'ra ganhar isto!

Mais uma vez as palavras do Mister: “vamos apostar neste abastecimento: come bem, hidrata bem, carrega bem a mochila porque ainda vais ter praticamente uma meia-maratona pela frente. Se tiveres tempo descansa um pouco e alonga porque a esta altura já podes ter alguma fadiga acumulada e os músculos podem dar sinal”.

Qual quê?! Nada. Fisicamente estava bem e de cabeça ainda melhor. Saímos de Vallorcine e sabíamos que agora teríamos pela frente a tal meia-maratona com algumas subidas. Aliás, o Miguel Catarino tranquilizou-nos dizendo: “agora é só subir um montezito e depois é sempre a descer até à meta.” Aquelas palavras fizeram com que eu e o Paulo Soares nos entusiasmássemos e saíssemos dali dispostos a fazer aqueles últimos quilómetros com um ritmo alucinante. Dissemos um para o outro: “como é? E para correr?” SIGA!!!!!

(Miguel Catarino, depois ajustamos contas: com que então é só um montezito?...)

Não sei porquê sempre que olhei para o gráfico achei que a subida depois de Vallorcine era canja. Menos acentuada e portanto mais fácil. Pois… Pensavas…

A partir daqui é que foram elas. Foram os 10km mais sofridos de toda a prova. O sol começava a baixar e arrefeceu, a fadiga começava a dar sinais – nada de preocupante, mas já acusava algum cansaço -, mas ao mesmo tempo a vontade de chegar aumentava a cada passada. Lembro-me por duas ou três vezes o Paulo Soares comentar: “epá, se depois daqui ainda for para subir mais juro que me atiro para o chão e faço birra!” E era. Era para subir mais. Mas ele não fez birra. Subiu e... De cara alegre!

Mais tarde digo eu: “mas então já não provei que consigo subir estas montanhas? É preciso mais? Tenham dó…” Admito que nesta fase apoderou-se de nós alguma desmotivação e cansaço que nos levaram a tecer algumas considerações menos abonatórias sobre a organização da prova. Nesta altura começa o Paulo Soares a receber telefonemas. Onde é que estávamos, se faltava muito, se eu ia com ele… Algumas pessoas estavam preocupadas com a barreira horária, porque tínhamos de chegar a La Flégère antes das 20.30m. Acabámos por chegar às 19.30m, tínhamos portanto uma hora de vantagem sobre a barreira horária.

Chegados a Lá Flégère foi altura de comer mais e beber melhor. Aquela subida tinha acabado com a nossa resistência. Por momentos senti que nos fomos um pouco abaixo, mas ao mesmo tempo estávamos a 8km (e sempre a descer!!) da meta. Vesti a minha t-shirt térmica, pois já sentia frio. O Paulo Soares vestiu o impermeável. Eu estava um pouco impaciente. O Paulo Soares estava calmamente a comer e eu apressava-o. Queria ir embora dali, queria ir para a meta. Estava ali tão perto, era só descer, correr, correr… Mas será que conseguiria correr assim tanto? Já tinha os músculos tão maçados. Até os braços, do uso dos bastões, me doíam. Amanhã vou parecer um cabide ou um fantoche, vou andar com os braços para o lado sem os conseguir mexer.

O Paulo Soares levanta-se e diz-me: “como é moça? 4m50s/km até à meta?” Ao que respondo: “’bora lá, moço. Até vou levantar poeira a descer!

Ó meus amigos, deviam ser moscas para nos verem. Aquilo é que foi bater perna e levantar poeira por ali abaixo. Deixei de ver o Paulo Soares, tal foi o gás que lhe deu. Eu passava por pessoas que diziam coisas do tipo: “vais com a pressa! Ainda tens força para isso?” Estes comentários ainda mais gana me deram. Corri, como nunca corri. Sabia que lá em baixo estava a meta com que tanto sonhei.

Destes 8km, chorei durante 6km. Chorei tudo o que tinha a chorar. Fiz um flashback dos meus últimos três meses de treino e fartei-me de chorar. Mas só choro aqui, sem ninguém ver. Nem o Paulo Soares percebeu. Ia na minha frente e mesmo quando esperava por mim rapidamente limpava o rosto e olhava de lado.

Corri, corri, corri, chorei, chorei, chorei. Foi assim ao longo dos quase 8km.

Ao entrarmos na vila já estava recomposta. O Paulo Soares esperou por mim e continuámos a correr cheios de força. Quando nos aproximamos do centro da vila começamos a ouvir os primeiros aplausos. Já eram quase oito e meia da noite mas ainda havia muita gente nas ruas. O Paulo Soares foi o meu anjo da guarda. Ele poderia ter feito a prova, no mínimo, com menos duas ou três horas. Mas não. Vai de Portugal a Chamonix fazer a prova comigo. Ganhei um irmão das corridas.

Há medida que progredimos no terreno os aplausos aumentam e eu começo a sentir-me a estrela da companhia. Começamos a ouvir os nossos nomes na boca de desconhecidos, algumas pessoas gritam: 

P   O   R   T   U   G   A  A  A  L

Estou a 100m da meta oiço o Paul Michel a gritar por mim, olho para ele e vejo um ramo de flores. É para mim? E ele responde: é! Agarro logo no ramo sem lhe dizer mais nada. Nem paro de correr, pego no ramo e fujo. O mais importante era chegar à meta.

Apressamos o passo de corrida. A vontade de chegar à meta é mais que muita. Entramos na rua principal, onde já só vejo as luzes do pórtico (sim, desta vez o pórtico estava lá a minha espera!) e não me aguento. Começo a sentir o corpo todo a tremer, mas as forças não me faltavam. E corri, corri, corri… Começo a ver e a ouvir os nossos amigos. Ouvia coisas como: já está! Conseguiste! Força! Está quase! Viva Portugal!

Mas o melhor de tudo estava para se ouvir e da voz de um desconhecido. Quando me encontro a três metros de cortar a meta oiço uma coisa tão simples como:

ANABELAAAAA DE PORTUGAAAAL

Era o speaker que gritava. Gritava o speaker, gritava o Telmo, gritava o Miguel Catarino, gritava o Rui Barbosa, gritava o Paulo Tavares, gritava o João Maia (que me conheceu naquele dia, naquele instante), gritavam duas idosas que estavam na meta do lado esquerdo, gritava o Paul Michel, gritava…



Eu oiço...

E ao longe, muito longe consegui ouvir os vossos gritos. Por momentos ouvi-vos gritar. Até o Mister gritou (baixinho, mas eu sei que gritou!)

Quem não gritou fui eu. Sempre pensei que chegava à meta em êxtase, com garra e raiva de superar este objetivo. Mas não, cheguei mansa que parecia um cordeiro. Como quem agradece humildemente tudo a que teve direito nesse dia. Não consegui expressar alegria, só gratidão. Não consegui explodir, só consegui abraçar quem lá estava e agradecer. Senti que ao agradecer àqueles, estava a agradecer a todos vós que aqui vieram dar-me apoio ao longo desta preparação. O treino é 1/3 da preparação, a cabeça outro 1/3 e a força dos nossos amigos compõem o ramalhete. Esta é a minha fórmula mágica.


Grata a Deus, por me ter dado aquele dia. O dia em que foi o meu dia!


Bravo, jeune fille!! Allez, allez Anabela!! Bon courage!!
  


Nada me correu mal, tudo me correu bem. Nunca vacilei, nunca encontrei nenhum “muro”. Mesmo quando as dores apareceram rapidamente gritei com elas. Ri-me e cheguei a gozar com as dores. Mas isto só se consegue quando estamos no nosso dia. Neste dia, corpo e cabeça estavam em completa harmonia, num alinhamento tão perfeito quanto uma pauta de música, onde clave de sol e notas musicais saltitam cima-abaixo em frente ao maestro. Assim fui eu, naquele dia, na montanha.
Senti-me uma bailarina, quando improvisei descidas ao sabor de um ritmo que não era o meu.
Senti-me guerreira, quando olhava cá de baixo e via pessoas pequeninas e coloridas no alto e sabia que era para lá que eu ia.
Senti-me a Heidi a caminho da cabana do avô, quando passei por entre pastos e vacas com chocalhos barulhentos.
Senti-me vitoriosa e merecedora de cada passo que dava.
Senti que merecia tudo aquilo e muito mais. Naquele que foi o meu dia!


Acreditaram que era possível eu não deitar nem uma lágrima? Foi só uma e ninguém percebeu.



Eu, a bandeira, os fotógrafos, os amigos, o ramo de flores e o meu Kilian Jornet

26 comentários:

  1. só isto: :) :) :)
    orgulho em ter feito umas mini corridas contigo.

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    1. Agora aproveita e começas a fazer umas maxi corridas!! Anda!! ;)
      Beijinhos

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  2. Perante tudo isso eu só consigo dizer isto:

    Que orgulho tenho eu em te conhecer!!!

    Puseste-me a chorar com soluços á mistura!!!

    Quando te vir esmago-te num longo abraço mulher!!!

    És uma guerreira!!!

    Lindo! Lindo! Lindo!!

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    1. Obrigada Marta! Foi uma conquista partilhada contigo, sabes isso. Contigo e mais algumas pessoas. Quando assim é juro que subir montanhas torna-se fácil!
      Beijinhos grandes!

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  3. Nem sei o que comentar Anabela... Mas tu entendes-me :)

    Deixa-me só dizer duas coisas. Uma é que vais ouvir durante muito tempo esses gritos. Acredita que ainda hoje oiço os de Sevilha :)
    Outra é que reagiste como eu na minha estreia na Maratona. Pensava que chegava à meta e "desfazia-me" mas foi uma sensação tão forte, tão forte, que fiquei praticamente sem reacção. Tudo louco à minha volta e eu sem reagir (na de Sevilha "vinguei-me" pois deitei toda a emoção cá para fora)

    Anabela... este dia foi todo teu. Nesse dia e para todo o sempre pois NUNCA te irá largar.
    Nem a nossa admiração pela fantástica coragem e empenho que demonstraste.

    Um grande beijinho e desfruta sempre desta sensação

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    1. Olá João, quando vejo as imagens (e todos os dias revejo as fotos e releio as vossas mensagens) arrepio-me e oiço essas vozes. Acho que nunca mais terei um dia assim. Posso conquistar mais montanhas, cortar mais metas, mas sentir o que senti nesta... Vai ser difícil...
      Já não te consigo agradecer mais. Só te posso dizer que os teus "Eu Acredito" foram um empurrão valente nas partes mais difíceis (que não foram muitas, é verdade), mas ali a seguir a Vallorcine lembrei-me várias vezes.
      Grande e forte abraço!

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  4. Anabela...nem sei nem consigo exprimir as emoções por que passei apenas a ler o teu post, nem imagino as que passaste.

    Mas que foi o TEU DIA! FOI!

    Apenas uma palavra para todos que te acompanharam, em especial, claro, aos Paulos: olha que ter uma guarda de honra dessas não é para todos, não senhora.

    Desfruta, saboreia.

    Uma inspiração, Anabelaá :)

    bjs

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    1. O engraçado é que tenho vários Paulos importantes nesta prova. Um atura-me, outro treina-me e outro faz a prova comigo. Sou ou não sou uma mulher de sorte?
      Grande abraço e muito obrigada pelo teu apoio constante!
      Beijinhos

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  5. Lindo, Anabela! Partilhei contigo as emoções desse que foi o TEU dia. Naquele que todos acreditavam, e tu não. Tens aí a prova... Fantástico, muitos parabéns!
    Beijinhos

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    1. Nesta odisseia, eu fui mesmo a pessoa menos boa para mim. Só acreditei MESMO no prório dia, sabias?
      Beijinhos grandes e obrigada!

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  6. Muito bem! Eu sabia que conseguias! Afinal aquele treino todo e os sacrifícios resultaram... Beijinhos e curte o momento!

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    1. Resultaram sim!! Também me lembrei de Monsanto. Quando cheguei a Chamonix no primeiro dia e vi a grandeza das montanhas lembrava-me de Monsanto e pensava: como é que queres conquistar estas montanhas a treinar nas rampitas de Monsanto?
      Beijinhos e obrigada Sílvio!

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  7. Anabela. Sabes como foi importante para mim, esta tua conquista. Como fiquei orgulhosa, motivada. Não tenho mais palavras para o expressar. Vou tentar expressar-me sobretudo com força de vontade para atingir os meus objectivos. E torno público que encomendo praticamente tudo. Compras do supermercado, calçado, plantas, comida para o cão, quase tudo. Mas ao Paulo nao encomendei nadinha. Se foi contigo foi porque quis. Porque és ímpar e única neste mundo e a tua companhia vale mais que os triunfos todos. Espero um dia também ter a honra de cortar uma meta contigo.!

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    1. Ana, acredita que ter o Paulo ao meu lado foi super importante. Ele transmitiu-me segurança e serenidade que me ajudou imenso. Fazer a prova com ele foi para mim um privilégio. Ele podia tê-la feito em menos três horas, já o disse. E como alguém aqui já o disse também: foi uma autêntica guarda d´honra! E de luxo!!!
      Oxalá consigamos partilhar mais conquistas juntos! E de preferência contigo ao lado!
      Beijinho e muito obrigada!

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  8. Grande Anabela....grande conquista que volto a dizer que sabia que ias conseguir (não me perguntes como, mas eu sabia). Este teu texto está lindo e transmite as emoções fortes da epopeia que eu consigo sentir tb....aliás, estou com a lágrima no canto do olho (como estou sozinho num quarto de hotel na Alemanha, não tem problema nenhum, ninguém vê :) )...e as fotos...espectáculo. Que seja a primeira de muitas grandes e belas aventuras, mas esta terá sempre um lugar muito especial, pois foi a primeira e não há nada como a primeira.
    Beijinho e boa recuperação

    P.S. Qual a próxima? :)

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    1. Mais um que acreditava em mim! Eheheheh
      Tal como dizes: acho que não volto a passar pelo mesmo. Aqui também se aplica: "não há amor como o primeiro!"
      Próxima? Só em 2015. 2014 está encerrado em termos de objetivos. Já chega. Foi um ano ímpar.
      Mas atenção, continuarei nos trilhos e também quero voltar à estrada!
      Beijinhos e muito obrigada!

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  9. Ana,
    mais uma vez parabéns, você também faz parte do "team com sangue nos olhos".
    Corri com você no relato,emocionante, você merece, curta bastante esta vitória!!
    Grande abraço.
    Jorge

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    1. Jorge, essa expressão "sangue nos olhos" marcou-me muito quando o Paul Michel foi para o deserto. Sinto-me honrada por agora ser merecedora de tal referência.
      Forte abraço e obrigada pelo apoio! Sempre!

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  10. Uau, incrivel :) Andei a poupar as leituras do Monte Branco para quando acabasse as férias e já andava em pulgas para ler o teu relato. Lindo! Que prova e que dia perfeitos! Muitos parabéns Anabela! Tu, o Paul Michel, o Paulo Soares e esse pessoal todo, são os maiores! Beijinhos

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    1. Somos os maiores no apoio uns aos outros. Estou a preparar um post sobre isso, Filipe. Nem imaginas a correria que foi nos dias a seguir à prova. Acho que ainda me cansei mais a apoiar os amigos, do que a fazer a OCC.
      Muito obrigada pelas palavras, beijinhos!

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  11. Anabela, também eu chorei de felicidade. Por ti.
    Muito, muito feliz por ti! Estás de parabéns pela tua coragem, pela tua resistência e garra.

    Quanto todos os factores se conjugam dessa maneira sai tudo perto da perfeição. Que mais poderias pedir?

    Estão todos de parabéns pelo que conseguiram, pelo que viveram e que com certeza vos deixou mais ricos como seres humanos.

    Não consigo dizer mais nada, nem tenho palavras. Parabéns querida Anabela!

    Beijinhos grandes

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    1. Muito obrigada Isa!!!
      Vim de lá diferente, é verdade. E acho que para melhor. Perceber que as nossas limitações e receios depressa se transformam nas maiores das forças faz-nos questionar até onde podemos ir?
      Grande, grande beijinho!

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  12. Adaptando livremente um excerto do teu texto:

    Li, li, li, chorei, chorei, chorei. Foi assim ao longo dos quase 8 minutos a ler este texto.

    Qualquer dia temos de deixar de ler certos blogues..... ;)

    Foi de certeza uma enorme aventura, uma emoção tremenda, uma conquista valorosa, acompanhada de pessoas excelentes, a apoiar-te de perto e também de longe.

    Fica uma sensação de superação, de satisfação, de conquista partilhada e orgulho mas também, porque não dizer, um bocadinho de inveja (mas da boa).

    Mais aventuras e desafios se esperam!

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    1. Foi mesmo, até agora, A Aventura. Com letra grande!
      Claro que faço intenções de abraçar novos desafios, mas este, e por vários motivos, será certamente único e inesquecível.
      como já disse: não há amor como o primeiro! :)
      Beijinhos e boas corridas para vocês!

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  13. Anabela, que lindo e emocionante texto!
    E que lindas fotos!
    Parabéns por esta grande conquista e muito obrigado por nos levares até lá acima contigo.

    Beijinhos

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    1. Muito obrigada Victor)
      Levei-te a ti e a outras pessoas lá, sim. Acredita... ;)
      Beijinhos

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