(Nem imaginam o que é ter de comer Travesseiros como se não houvesse amanhã... Cada trincadela que dava lembrava-me de cada metro corrido naqueles primeiros 4km e dizia para mim: "come, filha! Hoje podes, vá! Alimenta-te que tu mereces!")
No domingo fomos para Sintra logo pela fresca e muito motivados para fazer os 17km da célebre prova Grande Prémio Fim da Europa. Considerada das mais belas provas de estrada do panorama nacional, o seu percurso, em Sintra, dispensa qualquer apresentação.
Desta vez o departamento de logística e distribuição da equipa RUN BABY RUN funcionou na perfeição. Um dos elementos que não participou, a Babe, fez o favor de nos conduzir até (quase) à meta. Deixámos os pertences no carro e caminhámos escassos metros até à linha de partida.
No final, a Babe recolheu-nos junto à vila de Azóia e algures nas imediações desta localidade, numa zona discreta, trocámos algumas peças de roupa, passámos uns Dodots pelo corpo e seguimos para a Adega Coelho. Conhecem a Adega Coelho em Almoçageme, perto da Praia Grande? Não? Fazem mal, deviam conhecer. E mais não digo.
Bom, mas voltando à prova, que é para isso que me pagam! :))
Já estava avisada da dificuldade da prova, já me tinham contado dos primeiros quatro quilómetros e da famosa 'parede' ao km10. Não posso dizer que ia ao engano, mas a prova também não me enganou. Custou-me muito subir os tais quatro quilómetros iniciais mas custou-me menos fazer o km10. Já explico.
Para quem não conhece, a prova era isto.
Quando disse que a logística RUN BABY RUN esteve bem é que além de motorista particular, a nossa Babe, tivemos direito a reportagem fotográfica exclusiva. O Peter Days acompanhou-nos na prova SEMPRE a fotografar e a filmar.
Por isso, meus amigos, desta vez vão levar com cento e vinte sete fotografias do evento, pois o Peter Days é um rapaz dedicado e assumiu com muito entusiasmo a sua função de fotógrafo fazendo uma boa, embora tendenciosa, cobertura da prova. Basicamente, só aparecemos nós, pronto!
Voltando então à prova que me estão dali a fazer sinais.
Se tivesse de definir esta prova em duas palavras, seria: sobe e desce. É encantador correr em Sintra, é um local privilegiado, sem dúvida, onde sentimos que inspiramos natureza, inspiramos verde, inspiramos saúde. E eu gosto disso. Do que não gostei? Duas coisas. A primeira, que tem a ver só comigo e com as minhas características: provas que começam "a partir" geralmente não são a minha praia. Quero dizer o quê? Acho que já vos disse, algures por aqui no passado, preciso de meia hora para aquecer, preciso deste tempo para me sentir lá, no ponto. Até à meia hora de corrida sou uma carcaça velha que se arrasta pelo asfalto ou trilho fora. Agora imaginem essa meia hora feita naqueles 4km... Pois... Por isso disse acima, custou-me muito mais estes 4km iniciais, apesar de ainda estar fresca, por assim dizer, do que a 'parede' aos 10km. Ou seja, e resumindo, gostei muito da prova embora não morra de amores por este tipo de percurso. Prefiro começar 'soft' e acabar 'hard', percebem? Dou-me melhor nestes ambientes, por assim dizer.
A segunda coisa que não gostei: de alguns ciclistas que por lá andavam. Enfim, uma pena. Pessoas sem o mínimo de bom senso que sprintavam pelo percurso da prova fazendo, por vezes, razias a alguns atletas. Caso alguém se desviasse de repente para uma berma, para atar um atacador ou fazer outra coisa, podia acontecer ali uma desgraça. Sempre que ultrapassava alguém olhava para trás com receio de que algum ciclista, possuído pelo síndrome Juan Manuel Fangio, viesse para cima de mim.
São os ciclistas, e muito bem, os primeiros a apelar ao respeito dos automobilistas, sobretudo na distância mínima de segurança, pois agora apelo eu ao srs. ciclistas: deixem uma distância mínima de segurança em percursos onde se realizem provas e, acima de tudo, diminuam FRANCAMENTE a velocidade quando passarem junto aos corredores (há quem corra a ouvir música e não vos oiça quando se aproximam!!). Havendo bom senso todos podemos conviver no mesmo espaço: corredores e ciclistas, desde que se circule a baixa velocidade, acima de tudo.
Tirando isto, diria que foi uma manhã de domingo muito bem passada. Cada vez mais acredito que quando o despertador toca cedo a um domingo vale mesmo a pena levantar, com frio e nevoeiro, e sair para correr.
De seguida vejam só a super-mega reportagem feita por Peter Days cujas personagens principais somos 'nozes' as duas ambas em conjunto e às vezes separadas: eu e a Ritta! (Isto dava um título dum filme, pá!)
Os Senhores dos carrosséis!
Sempre atrasado Mr. Louis!
Hum, já vais a olhar para o chão...
Vamos lá caminhar um bocadinho, senão ainda bates algum RP!
Siga, vá!
Mais uma vez a caminhar para dar oportunidade aos outros.
Louis a lançar o pânico durante a prova!
Pânico lançado! Foi aqui que eu e a Ritta ultrapassámos umas quantas 'piquenas'! (Tudo combinado entre equipa)
Deves ter pago pouco ao fotógrafo, deves...
Are you talking to me?
O Paul Michel fugiu e nunca mais ninguém o viu!
Já sabe fazer pose, muito bem!! Fez-lhe bem o workshop!
1h55m15s depois... Tem calma, que os Travesseiros e as Queijadas estão no carro!
Fim de prova. Fim de mais uma conquista. Uma a uma. É assim que tem sido.
Nas subidas lembrei-me sempre de Chamonix e pensei: "tens mesmo de treinar! E muito..." Já sonho com essa prova. Mas sonho acordada com a consciência (e não certeza, para já) que será, para mim, um fim! Eu disse 'um fim' e não 'o fim'.
O fim de uma etapa, o fim de um ciclo que dificilmente conseguirei transpor. E talvez até não queira transpor. Ir mais além implica uma dedicação ao treino que talvez não queira para mim. Tenho refletido sobre isso, agora que vejo o Paul Michel a treinar para a Marathon des Sables. Não sendo um profissional, tem treinado (quase, quase) como tal. E acho que não é isso que quero para mim. Acho... Sobre isto tenho, para já, poucas certezas, mas ultimamente tenho questionado qual o meu limite. Quando direi a mim mesma: "basta! Não subas mais a fasquia". Mas também sei que quanto mais alcançamos mais queremos. Faz parte da natureza humana, não é?
Se dobrar aquele cabo das Tormentas, chamado OCC, dar-me-ei por satisfeita? Se conseguir cortar a meta em Chamonix, o que direi naquele momento: BASTA ou SIGA??!!!!
Até para a semana num trail de 25km!