Ora viva caríssima/os!!
Regressada de férias é tempo de vos explicar o que se vai passar no trail da Pampilhosa.
Existe alguém que é um verdadeiro embaixador de uma causa. Não há corrida que ele faça que não use a sua t-shirt mágica. Chama-se Carlos Teixeira e em tempos desafiou-me a vestir também esta t-shirt. Aliás, o desafio foi tão longe que me disse para a levar até à Transgrancanária. Assim o fiz. Lembram-se?
Já vos tinha aqui falado da Em'Força e da sua causa. Quem quiser aliar o gosto da corrida ao gosto de ajudar tem aqui uma oportunidade.
Mas voltando ao trail da Pampilhosa. Entre mim, e os dois Carlos (o Teixeira e o Cardoso) lembrámo-nos de fazer uma angariação de fundos no trail da Pampilhosa, visto ser este o trail onde o Carlos, o Teixeira, se iniciou no trail e onde um grupo de amigos vindos pela mão do Carlos, o Cardoso, vem até aquela bela terra desfrutar de um evento que, apesar de nem sempre correr bem, tem no final uma forte componente de convívio.
Assim, o desafio deste ano é convidar os participantes a adquirir a t-shirt (mais informações ver o site da SPEM) que custa apenas 10€ e ficam com uma t-shirt técnica que poderão usar noutras provas e dedicar, simbolicamente, os quilómetros que fazem à causa ou então no dia da prova contribuírem com o que quiserem.
Mais informações sobre esta iniciativa vejam aqui.
Desde já agradeço e conto com a vossa ajuda, nem que seja 1€.
27 de julho de 2015
22 de julho de 2015
7 de julho de 2015
40 anos de Anabela
No meio de corridas entre montes e rios ainda tive tempo de fazer
uma festa de aniversário de arromba!! Como é que eu tinha tempo para treinar?
Impossível.
Agora a sério. Fiz 40 anos! Queria uma
festa que assinalasse a data. Pedi ajuda a amigos e a uma empresa que organiza
eventos.
Foi um misto de surpresa e
mais-não-sei-o-quê!
Quando lá cheguei tinha um trono como o meu sapatinho voador!
(Já) é impossível imaginar a Anabela sem
corridas!
Agradecimento especial à A2 - De Coração
pelo empenho e dedicação na organização do aniversário.
Afinal de contas não temos de andar na
estrada da vida suados, a cheirar mal e com t-shirts técnicas!
Só ficou a faltar ali umas LaSportiva, caramba!!
O meu pódio dos 40 anos!
Não faltou a hidratação. Abastecimentos TOP!
Abraço a todos vós que também fizeram parte destes últimos anos da década dos meus 'intas'. Que na ultra-maratona da vida as subidas não nos tirem o fôlego... Se for preciso abrandamos, mas nunca paramos!
1 de julho de 2015
Cortina trail 2015 - o looping
[Aviso: texto longo e com linguagem suscetível de ferir sensibilidades.]
A minha referência comparativa para esta prova sempre foi a
OCC e nunca a Transgrancanaria. Cortina Trail seria o mais próximo da OCC mas
num registo mais fácil.
Mas quinze dias antes fui estudar o gráfico e percebi coisas
que ainda não tinha reparado com atenção. Esta prova tinha subidas muito mais
inclinadas, algumas até curtas mas muito inclinadas e tinha um outro detalhe
muito relevante: cerca de metade da prova era feita SEMPRE acima dos 2000m de
altitude, conforme podem (re)ver no gráfico.
Ora este “detalhe” era para mim um elemento de preocupação.
Por isso na véspera lá fui eu de teleférico até aos 2300m aclimatar. Eu e o
Paul Michel arrancámos de Cortina ao meio-dia e fomos almoçar ao refúgio
Faloria. Almoçámos lá, passeámos um pouco e depois ele regressou a Cortina para
arrumar a mochila e dormir uma sesta, já que a sua prova era nesse dia às 23h.
Voltando ao gráfico. Começo a comparar uma prova com a outra
e vejo que nesta tenho duas zonas de terreno técnico (na OCC não havia
nenhuma). Pensei que a menor distância e o menor desnível de Cortina, afinal
não eram suficientes para fazer desta prova um desafio mais fácil face à OCC. E
foi com este pensamento que acordei no sábado: “vais fazer uma prova igual à OCC e com muito menos capacidade física. Por
isso vais penar, menina!”
Partida, largada, fugida! Ao som da música oficial da prova
partem cerca de mil atletas, e ainda dentro de Cortina, em pleno alcatrão,
começo a sentir-me indisposta. Efeitos de altitude? Ainda era cedo, creio.
Digestão? Pequeno-almoço ainda pesado no estômago? Não interessa. Segue e de
cara alegre!
Até ao km10 era sempre a subir. Sem espinhas, não há que
enganar. És lenta a subir, vai ao teu ritmo, cuidado com as pulsações e hidrata
bem. Até ao primeiro abastecimento, em Malga Travenanzes foi um percurso cuja
dificuldade estava calculada e interiorizada. Ou seja, sabia que iria subir
muito, por isso não houve surpresas. Aqui, neste ponto de abastecimento, estava
quase a 2000m. Fui fazer xixi e atestei os reservatórios da mochila: misturei o
meu isotónico, chocalhei a mochila, enchi os flasks de água e… Siga. De cara
alegre!
Olho para o gráfico, que estava no dorsal (nesta prova
fartei-me de olhar para o gráfico, não sei porquê), e vejo que a seguir a este abastecimento
as subidas continuavam até Col dei Bos (+-2300m). A partir daqui a prova junta-se
à grande Lavaredo Ultra Trail e começam a passar por mim atletas de grande porte,
se é que me faço entender.
E foi também a partir daqui que a prova se desenhou. Mas que
puta de subida: técnica, difícil e com as condições atmosféricas a piorar. Aqui
tive de vestir o impermeável. Quase que vestia a t-shirt térmica, mas lá me
aguentei. Chuviscou um pouco e continuámos a progredir no terreno com alguns, embora
pequenos, mantos de neve a ladearem-nos o percurso.
Minhas Sras e Meus Srs. apresento-vos o calvário
A descida até Col Galinna faz-se num misto de ansiedade (por
descidas, claro) e receio, já que aqui começo a sentir dores musculares. Senti
que o corpo já estava muito castigado e que agora que podia dar mais gás mas não
tinha as forças necessárias para tal. Chegada a Col Galinna pensei: “pelo gráfico estás sensivelmente a meio da
prova. Mas será que estás MESMO a meio da prova?” Nunca fiando.
Os abastecimentos eram premium,
variados e de muita qualidade: caldo quente com massa, tostas com Nutella
(tantas, meu Deus, tantas que enfardei!), tostas com doce, queijo, chouriço,
pão, frutos secos, Red Bull, água, coca-cola, isotónico, sal, bolos variados,
fruta em calda de fruta. Nada a apontar.
Aproveitei este abastecimento para relaxar um pouco as
pernas. Comi sentada, massajei um pouco as pernas, respirei fundo e olhei para
o gráfico. Vá, moça, siga! Cara alegre!
Até aqui eu levava cerca de 5h e pouco de prova. De repente
apercebo-me que tenho apenas, mais ou menos, 2h e meia para chegar a Passo
Giau, local da barreira horária. “Mas
tenho de fazer mais ou menos 6km nas tais 2h e meia. Com um subida filha da
puta pelo meio. Já estou cansada. E está um sol do catano. E estamos no pico do
calor. E sinto que estou assada na virilha. E… E merda para isto! É sempre a
mesmo merda, foda-se! Lá ando eu aqui na luta pelo nada! “
Um, dois, três: GO! Não para. Não para. Não para, senão morre!
Caríssimos e prezados leitores, mas que puta de subida com
uma tosta de calor inqualificável. O meu relógio marcava 31ºC. Não satisfeita,
vejo um refugio ao longo, a cerca de 2km (ou nem tanto) e meto na cabeça que o
abastecimento era lá. Embico nessa direção mas reparo que à medida que me
aproximo não vejo vivalma. “Já me
enganei. Estúpida de merda. Loira burra! Volta para trás.” Voltei. Tinha-me
enganado. Culpa minha, porque o percurso estava irrepreensivelmente bem
marcado.
Aqui começo a sentir falta de forças. Devia ter comido mais.
Será? Mas eu comi tanto pão com Nutella e tanto caldo com massa. Olho para o
relógio e o tempo corria mais que eu. Chego a uma encruzilhada onde está um
casal membro da organização a dar indicações para virar à esquerda. Avisto, ao
longe o próximo abastecimento. Se o avisto é porque está perto. Pensei.
Perguntei ao casal quanto tempo ou distância era até ao refúgio. Disseram-me
apenas 2km e depois largam esta posta: “They’re just 15 minutes. Go. you can do
it”.
Primeira vez que começo a chorar (nesta prova chorei três
vezes). “Vais morrer na praia. Mas não
desisti. Podes morrer, mas morre com dignidade, não atires já a toalha ao chão,
foda-se! Corre, pá!”
Comecei a correr. Sim a correr, leram bem. Apanho terreno
técnico e conforme contornava as pedras e saltava por cima de algumas apanho
também pequenas subidas que eram como que empurrões para trás. Aqui começo a
gritar com o mundo. “Haveria necessidade
de apanhar agora e logo aqui subidas, foda-se? E pedras grandes para andar tipo
salta-pocinhas? Deixem-me em paz, ao menos aqui deixem-me correr, deixem-me
tentar, seus merdas!”
Olho para o relógio e eram 15h26m. Eu estava a 1km, talvez
nem isso. Mas apanho uma descida irregular e já me doía o corpo todo. Chego ao
abastecimento, passo no controlo, aquela merda apita e atiro os bastões com
toda a raiva para chão. Olho para o relógio: são 15h38m. Passaram oito minutos
da barreira. Olho para o céu, peço desculpa e dirijo-me ao “controller” e
pergunto: “passei oito minutos depois,
tenho de ficar aqui, não é?” Ele olha para mim e diz-me: “nós nunca barramos ninguém, cada um é livre
de seguir ou não, a montanha é livre. Este tempo serve apenas para ter a noção
que dificilmente termina a prova no tempo limite”.
“Foda-se! Foda-se! Foda-se!”
Já nem comi. Apanho os bastões, arranquei dali para fora e jurei a mim mesma
que terminava a prova. Até porque a partir dali era quase sempre a descer (era,
era…). Siga, miúda! E de cara alegre!
Quase que desfalecia para chegar ali, morri ao passar oito
minutos depois do tempo e agora tinha de renascer pois esperava-me uma meta lá
em baixo em Cortina! E eu não a ia deixar escapar!
A partir dali começo a entrar numa zona de prado, mas por
pouco tempo. Passados uns dois quilómetros aparece-me… Adivinhem? Uma subida.
Ou melhor um calvário. A partir desta fase da prova todas as subidas eram
calvários, a minha progressão era muito lenta. Além de muito íngremes eram
subidas com muita pedra, o que fazia que por várias vezes resvalássemos o pé
para trás. Era notório o cansaço dos atletas da prova grande, que nesta fase me
ultrapassavam. Sim, estes ainda me conseguiam ultrapassar. Ia sempre a controlar
o relógio. Via as horas passar mas os quilómetros não.
A chegada a Forc Giau faz-se já com uma temperatura mais
fresca. Neste alto temos um abastecimento- surpresa: chá quente ou água. Bebi
dois golos de chá e pus-me rapidamente ao caminho, não há tempo para merdices
zen.
Continuo a minha jornada e de repente sinto uns salpicos de
água nas costas. Achei que era alguém que me estaria, por brincadeira, a
borrifar, já que olhando em frente o céu estava azul e lindo. Olho para trás e
qual é o meu espanto quando vejo que o céu está negro e com uma nuvem
pesadíssima atrás de mim. Neste preciso momento o meu relógio apita e diz:
“alerta: tempestade”. Achei aquilo tudo um exagero, mas enfim. Ainda assim,
parei, tirei o impermeável da mochila e vesti-o.
Acho que nem dois minutos passaram quando os salpicos de
água passaram a gotas grossas e frias. Depois disto nem quatro minutos passaram
quando as gotas grossas e frias passaram a granizo. Em poucos minutos parecia
que tinha entrado numa discoteca onde as psicadélicas não paravam de brilhar.
Ver uma trovoada em alta montanha, a cerca de 2200m de altitude, onde todo o
céu se vê e onde tudo se ouve… Acreditem, não é para meninas. Nem para meninos.
Estes, muitos deles, abrigavam-se ao lado de rochas e ficavam parados. Eu sei
que esta seria a atitude mais acertada mas eu não conseguia ficar ali, sabia
que estava a dois, no máximo três, quilómetros do último abastecimento, em Rif.
Croda da Lago. E era a descer, seria rápido lá chegar.
Desligo o telemóvel, desligo o GPS do relógio e direciono os
bastões de carbono para chão. Tudo indicações que me foram dadas por quem anda
nisto há muitos anos e me avisou: em caso de trovoada, tens estas três coisas a
fazer. Nesta fase um atleta polaco da prova grande agarra-me o braço e diz para
ficar com ele junto a uma pedra, mas eu digo-lhe que não, que prefiro ir a
correr até ao refúgio e se depois for necessário, então sim, ficarei lá. Ele
disse que era maluca, mas não voltou a insistir mais. O mariquinhas-pé-de-salsa
ficou ali.
Segui o meu caminho, a achar que os meus filhos podiam ficar
sem mãe. A lei de Murphy é lixada. A probabilidade de me cair um raio na tola
era escassa, mas podia acontecer. Foi a fase da prova onde mais corri e voltei
a choramingar, desta vez não de raiva, mas de medo. Corri mesmo muito,
acreditem. Mas queria chegar ao refúgio. Além de estar com frio estava cheia de
medo, admito. Os trovões pareciam chapas de zinco a bater umas nas outras, um
som estridente que me fazia dar pequenos saltos. A acompanhar o medo tinha todo
aquele espetáculo de luzes psicadélicas e granizo a bater-me com toda a força nas
pernas.
Chego ao refúgio e tenho um abastecimento absolutamente
maravilhoso, com tudo aquilo que eu estava a precisar: novamente o caldo de
massa, tipo canja, ovo cozido (acho que comi uns quatro!), batas cozidas,
chouriço, queijo, pão, bolos e as bebidas do costume (Red Bull, coca-cola,
água, isotónico). Ataquei o caldo e os ovos. Estava a saber-me pela vida. E
como precisava de asas bebi um Red Bull (bardamerda para a publicidade
enganadora).
A partir dali é que era mesmo sempre a descer. Nove
quilómetros até à meta. Tinha duas horas! “Chega,
miúda, tem calma.”
Lembro-me de na véspera o Diogo (que fez a prova no ano
anterior) contar que a última descida da prova, caso chovesse, era chata de se
fazer porque ficava muito lamacenta. O que ele se esqueceu de me contar era que
além de lama, havia troncos de árvores, pedras rolantes e muuuuuuiiiiiita lama
mesmo! “Ó c’um caraças, pá! Mais um
massacre! Mas vá… Siga, carago! E cara alegre!”
Lá vou eu na minha luta contra-relógio e desta vez os
minutos passavam bem mais rápido que os meus quilómetros. Logo a seguir ao
abastecimento ainda consegui correr uns dois quilómetros. O percurso passava
numa zona lindíssima junto ao lago e por isso o terreno era bastante plano e em
terra batida, por isso rolava-se bem, mas ali por volta do km39 começa outro
inferno. Só me lembrava da Transgrancanária, mas aqui em modo molhado: muita
lama e pedra. Qualquer que fosse o sítio onde colocava o pé tudo mexia. De
bastões na mão, lá fui, pé ante pé, muito devagar. Com frio, pois estava
molhada e a progredir assim tão devagar não conseguia aquecer. Equacionei
vestir a t-shirt térmica, mas isso significava perder talvez uns dois ou três
minutos. “Nem pensar, continua com frio,
aguentas bem e esse tempo é precioso.”
A cinco quilómetros do fim da prova oiço baixinho: ‘Mor?... Paro e olho para trás. Era o
Paul Michel. Apanha-me a cinco quilómetros de terminar.
- Estás bem?
-Sim, estou. E tu?
-Também. Dá-me um
beijo.
-Vai. Até já, junto à
meta do lado esquerdo”.
(Hoje sei que ele quando chegou à meta disse aos nossos
amigos que não acreditava que eu chegasse a tempo. Da maneira como me viu
descer… "Não vai chegar dentro do limite" - pensou).
Vê-lo ali deu-me algum fôlego e alguma tranquilidade. Afinal,
também se tinha safo da trovoada.
Os últimos quilómetros foram, como já devem ter percebido,
um autêntico calvário. Sempre a olhar para o relógio e a ver o tempo passar.
Lembro-me passar numa casa de madeira e estar uma senhora a oferecer coca-cola.
Agradeci, disse que não. Voltei para trás e perguntei-lhe que horas eram (tinha
medo que com a trovoada e o desligar do GPS o relógio tivesse marado).
Disse-me: “são sete horas”. E
faltavam 4km. Demorei 43 minutos a fazer 4km.
Faltavam cerca de 4km para a meta e o terreno começava a
melhorar. Um trilho no parque natural, tipo bosque, terreno mais plano, logo
mais corrível. Mas já sem forças, estava exausta. Intercalava corrida com
caminhada, mesmo a descer.
Quando entro na povoação começo a avistar pessoas a aplaudir
e a gritar por nós. Gritam, incentivam-nos, oferecem-nos água, coca-cola, as
crianças pedem uma palmada na mão. Mas eu vinha de rastos. Um senhor ainda me
disse em italiano, pelo que percebi: “então,
que cara e essa? Estás a achegar à meta! Vai acabar já ali”.
Esta do ‘já ali’… Ainda tem algum parente alentejano, pensei
eu. Lembro-me de chegar a uma rotunda e estar desorientada, não via as marcações.
Por gentileza um condutor parou, apitou e apontou-me o caminho. Sorri-lhe. Ele
retribui o sorriso e esticou o polegar como que em jeito de “boa”!
Entro na avenida principal, repleta de pessoas, ora por
pessoas que estavam nas esplanadas a assistir, ora por atletas que já tinham
terminado. Passo numa esplanada toda em madeira, com imensa gente a comer e a
beber (ainda vi canecas de cerveja, como me apetecia já uma, caramba!) e de
repente, à minha passagem, várias pessoas se levantam e gritam. Não percebia o
que diziam. Fiquei muito emocionada e não contive umas lágrimas pelo rosto, o
que fez com que gritassem ainda mais.
De repente oiço uma voz familiar a dizer-me: “despacha-te, carago, o teu marido está na
meta e diz que tu não chegas a tempo. Pois eu cá disse: ai chega, chega! Corre,
carago! Não me faças perder a aposta”. Era o Rui com os seus dois filhotes.
Correram comigo até à meta, ainda me deu um empurrão nas costas que quase me
fazia cair no meio do chão.
Começo a ouvir o speaker ao longe. Aproximo-me da meta e
pelo tom de voz dele e pelo meu relógio terminei antes do tempo. Parecia um eco…
Ainda hoje oiço:
Ten minutes
before ending…
Está feita. Puta de
prova. Adorei. Amei.
* * * * *
Pela primeira vez percebi o que é morrer (desanimar) e
renascer. Em Passo Giau (na barreira horária) morri e desesperei por chegar
oito minuto depois da hora. Um minuto depois estava a arranjar forças e
motivação para enfrentar quase outro tanto de prova.
O que fiz, fi-lo em em 11h43m. Um tempo de merda, sejamos
francos. Mas o que me move, como sabem, não é isso. Consegui ter a oportunidade
de passear por montes, vales e rios de uma beleza absolutamente arrebatadora.
Vi, conheci e falei com pessoas absolutamente extraordinárias (um beijinho
Cecília, sei que não lê o blogue, mas adorei conhecer a Cecília, uma espanhola.
Tal como adorei conhecer o casal britânico, o jovem polaco, a portuguesa
Goreti…).
Tanto se fala no espírito do trail, pois eu acredito no
espírito das pessoas. Há pessoas boas e pessoas más em todo o lado. No trail
também. Quando se fala em espírito do trail significa, e ainda bem, que há mais
pessoas boas a praticar esta modalidade. Modalidade esta que nos permite viajar
por países fascinantes, conhecer pessoas encantadoras, ver paisagens
arrebatadoras. E isto é igual para o que termina em primeiro ou para o que
termina em último. Mais uma vez o único testemunho que vos posso deixar é que
sejam quais forem os vossos objetivos (ficar à frente do Manuel, diminuir os tempos,
terminar à frente do vizinho, dar uma abada ao colega de trabalho… Tudo
legítimo) tentem alcança-los com dignidade e respeito pelo próximo, pela
natureza e, acima de tudo, por vocês.
O espírito do trail sou eu. O espírito do trail és tu. O espírito do trail não anda aí aos trambolhões. Somos nós, com as nossas atitudes que o construímos.
Este ano acabaram-se os meus grandes desafios. Foram dois:
Transgrancanária e Cortina Trail.
Terminei esta prova muito feliz. Fi-la muito feliz (tirando
ali um momento ou outro de maior angústia). Quero voltar! Cortina merece e eu
também!
Voltarei a Cortina… Sempre, de cara alegre!
(Mais uns dias e falo-vos um pouco da prova do Paul Michel)
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