23 de maio de 2017

Estrela Grande Trail: edição "Estava cá um bafo..."

Ir ao Estrela Grande Trail (EGT) foi como ir a casa dos avós fazer aquelas almoçaradas de família ao domingo, onde se reúne toda a gente: avós, tios, primos…

As caras são quase todas conhecidas, o ambiente de amizade e convívio é muito saudável e a vontade de correr em trilhos que já conhecemos é muito grande.

 


Só o Paul Michel é que foi correr a prova dos 109km. Como ia dar-lhe apoio decidimos levar os miúdos e acabámos por fazer um fim de semana em família. Até porque convém que nós, família, também treinemos a dar este apoio porque em Agosto no UTMB a cena repete-se.



Este ano, como já devem ter reparado, decidi fazer uma espécie de ano sabático de provas. Vou a muito poucas (até agora fiz uma prova) mas continuo a treinar. Treino de forma diferente (mais musculação), mas mantenho a corrida duas a três vezes por semana.
Voltando ao EGT e à prova. Do que acompanhei (de Loriga em diante) creio que o Armando Teixeira e a sua equipa conseguiram fazer um percurso do mais duro que a Serra da Estrela tem. Creio que não se esqueceram de nenhum trilho técnico nem de nenhuma subida impiedosa. Havia tudo isto no cardápio do EGT. A juntar o calor extremo que se fez sentir… Foi a queda dos artistas, literalmente. A meio do dia já não se discutia lugares no ranking. Já só se falava se este ou aquele desistiu ou continuou. Em cada abastecimento as baixas eram significativas.



A Serra da Estrela pode ser muito agreste. A Serra da Estrela é montanha à séria. Vi alguns atletas pouco preparados para este evento. Uma prova de 50km na Serra da Estrela não é igual a uma prova de 50km na Serra da Arrábida. Continuamos a ver a “loucura” de alguns atletas em atirarem-se de cabeça para estas provas sem terem consciência do que os espera.

Voltando ao EGT e à prova. Os abastecimentos estavam sempre impecáveis e de boa qualidade. O staff de apoio sempre disponível e simpático para ajudar. A única coisa que não ajudava era mesmo o calor tórrido que teimava em “queimar” atletas a cada abastecimento. Vi que neste prova o staff não está ali apenas a distribuir sólidos ou líquidos. Falavam com os atletas, dirigiam-se a eles pelo nome, perguntavam se estavam bem. Vi inclusive pessoas do staff a encher bidons de água aos atletas, a servir pratos de massa (como se estivéssemos num restaurante), a desatar os atacadores a atletas já em dificuldade... Eu creio que isto é, de facto, muito importante. Existem atletas que não têm apoio, que estão sozinhos (ainda mais mérito têm). Por isso, é sempre importante ajudá-los nalgumas tarefas básicas.

Voltando ao EGT e à prova. O Paul Michel propôs-se fazer esta prova sem objetivos específicos, apenas concluí-la com êxito. E foi isso que aconteceu. Estimava terminá-la perto das duas da manhã mas terminou-a perto das cinco e meia da manhã. Nos últimos 20km disse vários palavrões muito feios, que os filhos não ouviram porque já dormiam dentro do carro, e acabou por arranjar um companheiro de viagem nos últimos 10km.

Curioso é ver que nos últimos quilómetros já ninguém corre sozinho. Ou seja, à medida que a prova avança começa a surgir grupos de atletas. Começam a surgir as amizades da corrida. Pessoas que nunca se viram e que, com o objetivo de terminar, juntam-se para se ajudar mutuamente. É muito engraçado. Nesta prova em particular deu para perceber muito bem que já quase ninguém cortou a meta sozinho (refiro-me à malta do pelotão, claro). É curioso ver com que facilidade as pessoas sentem que precisam de ser ajudadas a continuar, mas ao mesmo tempo também sabem que podem ajudar o outro.

Voltando ao EGT e à prova. O Paul Michel foi um dos resistentes. Demorou 23h a percorrer os 109km.




Um percurso feito em família, numa prova organizada por família.