Um contra relógio. Uma prova de nervos.
Já fui última em prova, mas nunca lutei contra um relógio.
Foi à unha: 11h42m13s. Tinha 12h para acabar a prova ("ohhhh... 12 horas?? Tempo de sobra! - pensei eu).
Vamos começar pelo início? Ou pelo fim? Nem sei.
Posso começar já por vos dizer que entre esta prova e a OCC,
venha a Anabela e escolha! A OCC estará sempre no meu coração por ter sido a minha
primeira ultra. Bonita, encantadora e com paisagens lindíssimas. Mas esta…
Cortina trail manda-nos ao inferno, ri-se de nós enquanto lá estamos e depressa
nos devolve ao paraíso.
Foi a prova mais dura que fiz até hoje. Castigou-me, tanto
quanto a Transgrancanária, mas depressa voltava a ser minha amiga. Tão depressa
me dava um raspanete (“ai treinaste pouco? Então agora toma lá esta subida!”) como
me afagava a cabeça (“vá… Corre por aí menina… Mas não te distraias com as
vacas, nem com os rios, nem com as pedras… Vá, diverte-te lá um bocado”).
Pode parecer até tosco, mas nunca a montanha falou comigo
como esta me sussurrou ao ouvido. Ouvi-a várias vezes, acreditem. Ouvi vozes,
ouvi o vento, ouvi trovoada. Fui recebendo vários recados, fiz várias
reflexões. Foi a prova onde mais aprendi e onde mais me conheci. Enfrentei as
quatro estações: apanhei um escaldão nos ombros e cheguei a tremer de frio e de
medo. Sim, de medo. Pela primeira vez tive medo.
Mas, em momentos diferentes, e em cada passo que dava
pensava em como era uma privilegiada em estar ali. O serpentear na montanha
permitia-me ver postais que se vendem nos variados quiosques dos centros das
cidades. Os Dolomitis são a puta da loucura.
E quando chego à puta da meta, deixo de ouvir vento e
trovoada. Só oiço a voz do speaker:
Anabela de
Portogallo!! Brava!! Ten minutes before ending…
Por dez minutos quase que morria na praia. Ou melhor, morria
na montanha.
Deixem-me recuperar para vos contar o que foi a MAIOR
aventura da minha vida.
Até já!