Dois finishers: ele a correr e eu a dar apoio. Percebo agora quando
me diz que o parto lhe custou mais a ele do que a mim. Esta prova também me
saiu do pêlo.
Não foi fácil, andei 17h36m atrás dele. Estive sempre à espera.
Horas a fio. À espera. Ora bebia chá, ora encostava a cabeça ao vidro do carro,
ora caminhava para espantar o sono, ou não fazia nada. Simplesmente esperava.
Ele chegava e eu tinha tudo preparado: isotónico, depósito do
camelback com água, barras de cereais, etc… Fazia massagens, esfregava-o com
protetor solar, trocava-lhe a roupa, molhava-lhe o pescoço e o rosto e dava-lhe
um beijo. Repeti isto dez vezes. Começámos às 20h de sexta-feira e terminámos
pela hora de almoço de sábado.
Nunca tive grandes dúvidas da dificuldade de uma ultra maratona.
Mas desta vez a perceção da dificuldade foi muito diferente. Tive aliás, novas
perspetivas do que é uma ultra maratona.
A história desta prova acabou por ter um final diferente.
Diferente e difícil.
Pela primeira vez o Paul Michel fez um 3º lugar da geral. É um
facto. E como excesso de modéstia também é arrogância admito que fiquei muito
contente por ele. Mas acreditem, e sei que alguns acreditam mesmo nisto, o que
mais me gratifica é o percurso. O percurso desta prova assemelha-se muito ao seu percurso de vida.
O começar a prova, corrê-la, sofrê-la, vivê-la, morrê-la e
terminá-la… Vale qualquer pódio. E isso ele tem-no feito sempre (mesmo quando
desistiu nos Pirinéus), de forma honesta, trabalhadora e empenhada.
Paul Michel termina a X Ultra Maratona Caminhos do Tejo, com
144km, e pela primeira vez alcança um 3º lugar da geral. Mas com recurso a doping, admito já. Em cada posto de abastecimento estava o seu doping: o abraço, o afago, o beijo e as palavras de ânimo da mulher, dos filhos e até da sogra. E isto, meus amigos, é um doping infalível e seguríssimo, daqueles que ninguém desconfia e não acusa quando se faz xixi no copinho.
Fica a dica para todo o mundo da corrida...
Fica a dica para todo o mundo da corrida...
Além deste 3º lugar, classificou-se ainda, e como sempre, em 1º lugar na admiração que eu e mais algumas pessoas sentem por ele.
Depois do que vi, vivi e senti a minha admiração por ele cresceu muito mais depois desta prova. Muito mais…
Uma palavra de apreço aos elementos dos postos de abastecimentos que foram incansáveis na simpatia e dedicação. Em especial, aos postos de abastecimento de Azambuja, Valada, Santarém (e aqui uma menção especial ao massagista), Santos e Olhos de Água.
Deixo-vos com alguns registos desta epopeia.
Depois do que vi, vivi e senti a minha admiração por ele cresceu muito mais depois desta prova. Muito mais…
Uma palavra de apreço aos elementos dos postos de abastecimentos que foram incansáveis na simpatia e dedicação. Em especial, aos postos de abastecimento de Azambuja, Valada, Santarém (e aqui uma menção especial ao massagista), Santos e Olhos de Água.
Deixo-vos com alguns registos desta epopeia.
A caravana de apoio
A partida
Não temos fotos da chegada à meta. É uma pena... Estranhamente não encontro registos desse momento. Fica para uma próxima.
"Olhe, desculpe, o caminho para o Valle D'Aosta, para o Tor des Geants?"
"Meu amigo, na dúvida é p'ra cima!"