Tal como toda a escrita de Haruki Murakami estas frases são transparentes, límpidas, claras como a água.
Quando lia o livro debaixo do chaparro alentejano, estas passagens deixaram-me com falta de ar, de tão "reais" que são para mim. Nenhum escritor que não fosse simultaneamente corredor conseguiria escrever assim. E é por isso que sou duplamente fã de Murakami: escreve bem e corre melhor!
Por isso, minhas amigas e meus amigos, sem lamechices, quero partilhar convosco algo que me fez muito bem: ler este livro. E por isso partilho parte dele.
"Enquanto corro, vou dizendo a mim mesmo para pensar num rio. Pensa nas nuvens, digo. Mas no fundo não estou a pensar em nada de concreto. Continuo, pura e simplesmente, a correr nesse confortável vazio que me é tão familiar, no interior do meu nostálgico silêncio. E isso é qualquer coisa de profundamente maravilhoso. Digam o que disserem."
"Começo a correr ao longo da estrada, lentamente, quase a arrastar os pés. Passa por mim uma velha senhora, no seu tranquilo passeio diário, e eu nem sequer consigo alcançá-la, isto só para verem do que a casa gasta. À medida que progrido no terreno, porém, os músculos relaxam e, vinte minutos mais tarde [no meu caso cerca de trinta], permito-me correr como as outras pessoas. Ponho-me então a acelerar, após o que continuo a correr mecanicamente, sem nenhum problema. Por outras palavras, os meus músculos são daqueles que precisam de tempo para aquecer. Revelam-se lentos no arranque."
"O importante não é competir com o tempo. Para mim, agora, o que interessa é a satisfação de chegar ao fim dos quarenta e dois quilómetros [no meu caso, para já, vinte e um], que é a duração da corrida, e o prazer que isso me poderá proporcionar. As coisas que aprecio e a que dou valor não se traduzem em números. O que me norteia é a busca de um sentimento de orgulho um pouco diferente na sua origem do que tinha até à data."
"Cortar a meta, nunca andar a passo e ter prazer na corrida em si. São esses, por ordem, os meus objectivos." [Aqui fiquei com pele de galinha].
"Para um corredor como eu, o que verdadeiramente importa é conseguir os objectivos que me proponho, ir até onde as minhas pernas me levam. Dou tudo o que tenho, aguento tudo o que tenho de aguentar, e obtenho, à minha maneira, o que para mim conta. De cada falhanço, de cada alegria, procuro tirar sempre uma lição concreta. (Não importa que seja minúscula, basta que seja concreta.) Com o tempo, à medida que os anos forem passando, contando desde já com as corridas que hã-de vir, acabarei por alcançar o meu lugar de eleição. Ou talvez, quem sabe?, apenas um lugar que se aproxime vagamente disso. (Sim, esta é a melhor maneira de pôr as coisas, sem sombra de dúvida.)"
Por isso...
Eu próprio não diria melhor. ;)
ResponderEliminarÉ isso tudo, sem tirar nem pôr.
Beijos!!!
E quem escreve assim não é coxo!
EliminarBeijos :)
Muito bom. Já ando há algum tempo para ler Murakami, e esse livro em particular vai ter de fazer parte das próximas leituras. De momento ando a "devorar" 50/50 do Dean Karnazes.
ResponderEliminarBeijinhos e boas corridas.
Também tenho essa na prateleira em fila de espera!! :)
EliminarBeijinho e boas corridas!
- Partilho mais duas citações (do mesmo livro):
ResponderEliminar"...a dor é inevitável todavia o sofrimento é uma opção..."
"...tenho como objectivo o eu anterior..."
Beijos e abraços
Muito bem! Outras duas bonitas citações.
EliminarHoje alguém me dizia: "mas, nesse livro, há frases muito mais bonitas do que as que escolheste".
Mas eu não escolhi estas por serem bonitas, escolhi-as porque são "minhas"!
Boas corridas, Paul Michel ;)