Começámos, como habitualmente, com o briefing matinal onde
os participantes se apresentaram. Algumas caras habituais, alguns amigos e
algumas caras novas. Começa a gerar-se nestes trail camps um ambiente muito
familiar, mas que nem por isso criam algum desconforto a quem vai pela primeira
vez. Não sou a melhor pessoa para falar pelos outros, mas consigo ler e
perceber alguns olhares que dizem sentir-se acolhidos e bem recebidos por
todos.
Nós, os habituais, tentamos sempre fazer destes dias, momentos entre amigos onde reina a boa disposição, o espírito de entreajuda e amizade. E creio que conseguimos. Neste ponto, acho que o Armando Teixeira tem muita sorte ao beneficiar da presença de alguns ilustres amigos e companheiros que o ajudam a tornar este fim de semana de treino numa experiência “mágica de qualidade máxima e excelência” – citando esse grande pensador dos trilhos nacionais Miguel Catarino - que desta vez nos brindou com cânticos galvanizantes, do seu tempo de estudante universitário que… Olhem, nem vos conto… Ou melhor, nem vos canto que me pode faltar o ar!
Nós, os habituais, tentamos sempre fazer destes dias, momentos entre amigos onde reina a boa disposição, o espírito de entreajuda e amizade. E creio que conseguimos. Neste ponto, acho que o Armando Teixeira tem muita sorte ao beneficiar da presença de alguns ilustres amigos e companheiros que o ajudam a tornar este fim de semana de treino numa experiência “mágica de qualidade máxima e excelência” – citando esse grande pensador dos trilhos nacionais Miguel Catarino - que desta vez nos brindou com cânticos galvanizantes, do seu tempo de estudante universitário que… Olhem, nem vos conto… Ou melhor, nem vos canto que me pode faltar o ar!
Volto a repetir este dia foi do ‘best’. Criaram-se grupos
distintos, como sempre, com ritmos diferentes. Eu vim na cauda do grupo mais
lento mas sempre acompanhada por alguém. Aliás, regra d’ouro nestes trails
camps: nunca ninguém vai/está sozinho. A não ser que queira ir atrás de um
arbusto e aí… E mesmo assim… Não sei… Afinal, somos ou não uma família? Ahahahah...
O dia estava absolutamente maravilhoso. Um sol radioso,
pouco vento e um grupo de pessoas com imensa vontade de correr. Não estava
assim tanto calor, como se previa. Estava calor, mas lá no alto, a cerca de
1500m de altitude, fazia uma ligeira brisa fresca que nos ajudava, e muito, na
progressão.
A foto de família
Desta vez avisaram-nos que os quilómetros seriam poucos mas
bons. Não sei se isto era bom ou mau. Avisaram que desta vez eram menos
quilómetros, mas que estes eram para saborear. Ou seja, seria, portanto, o
chamado treino gourmet. Medo!
Rapidamente mexi os cordelinhos e desenvolvi contactos privilegiados para consegui obter informações exclusivas sobre esta história dos quilómetros para saborear.
Rapidamente mexi os cordelinhos e desenvolvi contactos privilegiados para consegui obter informações exclusivas sobre esta história dos quilómetros para saborear.
Afinal de contas tudo não passava de um descidazeca
pindérica lá do alto do monte até ao Covão D’Ametade, onde iríamos ter uma
surpresa. Um almoço em jeito de pic-nic.
O treino rolou sem dramas. Sem enjoos, sem fadiga. Acusei
algum cansaço mas nem vou abrir a boca! Ou melhor, vou. No abastecimento tem de ser!
A cereja em cima do bolo foi a chegada à Torre, mais propriamente ao abastecimento. A escassos metros encontramos os últimos vestígios de neve. Depois de andar a correr com 27ºC que bem me soube mandar-me para o chão e rebolar naquele gelo! Vejam.
Abastecimentos premium
A cereja em cima do bolo foi a chegada à Torre, mais propriamente ao abastecimento. A escassos metros encontramos os últimos vestígios de neve. Depois de andar a correr com 27ºC que bem me soube mandar-me para o chão e rebolar naquele gelo! Vejam.
Lindo, não é?
Também foste?! :)
Quando chegamos a um sítio bem no alto lá-não-sei-onde
começamos a olhar para uma escarpa. Um trilho, quase inexistente, completamente
selvagem, por entre giestas que me arranhavam as pernas. Cá em cima avistámos o
curso da linha de água pela vegetação mais densa, mas avistávamos também
rochedos imponentes de um lado e de outro: o Cântaro Gordo (cala-te Catarino!) e o Cântaro Magro. Metia medo. Era muito alto, a
descida era muito íngreme, mas estávamos confiantes que os nossos guias nos
levassem ate lá abaixo em perfeita segurança. Afinal de contas tínhamos
connosco a elite: Miguel Catarino a liderar o grupo, Nelson Sousa e Remi Gallet
a fechar. Mas em boa hora inverteram posições. :))))
No topo do mundo
Descida gourmet
De cá de cima arriscámos dizer: “daqui a 45 minutos estamos
lá em baixo. Prontinhos para almoçar.” Mas não. Só passadas quase duas horas é
que lá chegámos. E não foi apenas pela tecnicidade do terreno. Foi porque nos
perdemos. E esta foi, para mim, a grande aprendizagem deste trail camp. Quando
se vai pela terceira vez para um trail camp achando que já se aprendeu tudo…
Eis que surge matéria nova!
Como é fácil perdermo-nos na montanha. E a ver o nosso
porto, a nossa meta, bem ali à nossa frente. Ao alcance de meia dúzia de
passos.
Começámos a descer, em alguns momentos com grande dificuldade
em transpor obstáculos, principalmente eu que tenho a perna curta e por duas
vezes tive de ser literalmente levada em braços de um lado para o outro. Dar um
passo - porque dar um salto naquele terreno era impensável, pois a queda seria
o mais certo -, foi para mim, por duas ocasiões, missão impossível. “Isto não
estica mais” – dizia eu.
Noutras situações parecíamos animais selvagens, descíamos a
quatro mãos e a raspar o rabo no chão. Hoje, aqui a escrever, posso dizer-vos
que tenho as pernas arranhadas e as mãos com dois pauzinhos espetados entre os
dedos que ainda não consegui arrancar. Consigo descer penhascos na Serra da Estrela, mas não consigo tirar dois
pauzinhos da mão esquerda.
Independentemente do engano, como foi o engano, o porquê do
engano, o quando se dá o engano… A verdade é que TODOS estavam enganados. E o
importante era dar com o caminho certo. Sucederam-se algumas tentativas
individuais de procurar o trilho, mantendo o restante grupo junto no mesmo
local, mas estava difícil dar com ele. A parte mais complicada foi quando
descemos numa zona bastante técnica e ouvimos uma voz: “temos de voltar para trás, aqui não dá para passar…” Já estávamos
cansados, com pouca água, poucos alimentos… E agora mais esta, temos de subir
tudo outra vez até lá acima para encontrar o trilho certo. E encontrámos,
claro! E o grupo manteve-se ali unido, sem revelar grandes impaciências nem
irritações – o que seria normal acontecer perante alguma exaustão, fome e sede. São estas situações que nos
fazem apender a respeitar a montanha e saber caminhar/correr nela.
Da minha parte, quando estava lá no alto e me apercebi que o
meu destino estava apenas a 45 minutos de caminhada bebi a minha água quase
toda. Mal sabia eu que afinal ainda tinha quase duas horas pela frente… E se
tivessem sido quatro horas? Cinco? Dez? Já só tinha uma barrita e estava
exausta das pernas.
Aquela não era até uma zona muito perigosa. Havia ali um
curso de água para matar a sede e em caso de perigo sério, já estávamos perto
da estrada, uma forte apitadela ou assobio e certamente alguém nos ouviria. Mas
esta experiência foi, para mim, muito enriquecedora. Obrigou-nos a gerir a parte
psicológica, a não perder o discernimento, a ter calma e a gerir todo o esforço
que ainda teríamos de fazer. E nisso creio que o nosso grupo passou com
distinção.
Um palavra em especial ao Armando Teixeira que, percebendo
que estávamos “perdidos” voltou para trás ao nosso encontro e encontrou-nos! Ao
Nelson Sousa, ao Remi Gallet e ao Miguel Catarino que nos levaram sempre
juntinhos até lá abaixo sempre com muita calma.
À nossa espera estava um maravilhoso almoço servido junto às
margens do rio.
De prato vazio: só abri a boca para comer legumes. Linda menina!
De tarde ouvimos o Mister Paulo Pires a falar de treino e preparação para ultramaratonas. Não levei caderninho para tirar notas mas aprendi muito, sobretudo, sobre a componente de treino de força e flexibilidade. Outra matéria interessante é a meteorologia. Fez-me saber, por exemplo, que não basta ir ao Accuweather e ver a temperatura, é preciso cruzar isso com o vento para se obter outro indicador e esse, sim, muito mais real: a sensação térmica, a temperatura que o corpo sente e não a que está.
Jantámos, chichi-cama.
Domingo: subida da garganta de Loriga até à Torre. Subir 1000m de altitude em aproximadamente 9km. Foi o que fiz sempre a andar. E é o que terei de repetir nas próximas semanas se quiser subir no Monte Branco.
Saímos de Loriga, perto das 8h da manhã rumo à Torre. Foi o que fiz sempre a andar...
Jantámos, chichi-cama.
Domingo: subida da garganta de Loriga até à Torre. Subir 1000m de altitude em aproximadamente 9km. Foi o que fiz sempre a andar. E é o que terei de repetir nas próximas semanas se quiser subir no Monte Branco.
Saímos de Loriga, perto das 8h da manhã rumo à Torre. Foi o que fiz sempre a andar...
A andar…
A conversar…
A andar…
A ouvir cantar…
A andar…
A chorar…
E com falta de ar… :)
Resume-se a isto a minha ascensão à Torre. Obrigada por me
aturarem!
A vós, que sabem quem são, digo-vos:
Esta minha vida de
corredora é um perfeito conto de falhas!
Conseguem ver-nos?
Os melhores sorrisos do mundo
Tens razão. ;)
El Comandante
El Capitán
Muito obrigada a todos os que lá estiveram pelo espírito e sorrisos. Mais uma vez venho deste trail camp com uma mão cheia de tudo.
Continuo sem entender como é que há gente que me chama doida quando digo: "este fim de semana, vão estar 30ºC, mas eu vou para a Serra da Estrela correr 20km num dia e no outro vou fazer a garganta de Loriga..."
Keep on moving girl, because you are still on the road to nowhere...
Vou ser brutalmente gozada, mas estou a chorar. Eu estive lá. Eu fiz isto contigo. Nós perdemo-nos mas confiamos. Nós fizemos a Loriga e a ouvir o Catarino cantar que ía comer até se lambusar. Eu aínda não acredito.!
ResponderEliminarE as "Burbujas de Amor" versão Engª Civil??!! :))
EliminarTalvez não saibas, mas eu também chorei. Lá... Na garganta de Loriga...
Beijinho muito grande Ana!
(E fui gozada pelo Catarino!)
Mais uma vez muitos parabéns pela escrita, adorei ler aquela expressão "... conto de falhas..." eheheh.
ResponderEliminarFoi mais um fds para repetir e para recordar.
Já disse lá no teu cantinho que adorei rever-te. És das pessoas que mais gosto de reencontrar e assistir à tua evolução.
EliminarContinua, Nuno!
Beijinhos
Espectáculo....um dia, um dia destes tb vou para destabilizar o grupinho :)
ResponderEliminarOlha lá..vocês compraram um vale de 10 participações ou quê????
Grandes fotos....
Beijinhos e em Agosto vais estar em grande...acho que entraste definitivamente no espirito da coisa, não?
Carlos, já te disse e repito: um dia tens de ir a um trail camp. Tu e não só. Quem gosta de trail e queira aprender mais deve mesmo ir.
EliminarAlém disso, tens todo um perfil que se encaixa neste espírito.
Sobre a segunda parte do teu comentário espero apenas estar lá. Em grande não, mas estarei lá. ;)
Beijinhos
Estarás lá e cada vez mais piquena que isso da dieta está a ser levado a sério ;)
ResponderEliminarTens ai fotos muito giras e que nem parecem tiradas cá.
De resto esses "Trail Camp" parecem muito interessantes.
Bjs
Olá JNR! Se gostas de montanha e natureza equaciona, um dia, participar num trail camp.
EliminarNo nosso país também temos locais maravilhosos, é verdade! Há que explorá-los.
Beijinhos
AMO esta Serra! E estes relatos deixam-se cheia de inveja (eu sei que é feio, mas...) ;)
ResponderEliminarBeijinhos
E o que estás à espera?? Próximo trail camp é em agosto. Pensa nisso. Isto tem a tua cara!!
EliminarBeijinhos